quarta-feira, 23 de setembro de 2009

AGRADECIMENTOS

Bom Pessoal! Gostaria de agradecer a todos que acompanharam essa história. Quero dizer que foi muito prazeroso ter escrito o livro FIXAÇÃO.

E aguardem nossos próximos livros!

Capítulo VINTE

Coloquei a última caixa no caminhão da mudança e voltei para dentro de casa. Eu e minha mãe íamos nos mudar mais uma vez. Ela tinha conseguido uma promoção no trabalho e estava sendo transferida para outra cidade. Pela primeira vez isso estava me deixando feliz. Odiava ter que ser assim tão nômade, mas dessa vez seria ótimo respirar novos ares.
Minha mãe me apressava. Entrei na nossa antiga casa e fiquei olhando o vazio. Aquela era uma parte minha que eu deixava para trás. Nunca pensei que seria tão difícil abandonar a primeira paixão. Voltei-me para a porta e vi Stéfany parada.
__ Você vai se mudar?
__ Não está vendo?
__ Eu queria te contar uma coisa que me aconteceu...
__ Nesse momento não me interessa mais nada que aconteça com você.
__ Nossa, Isa! Eu sempre fui sua amiga...
__ Claro! Você era minha amiga até ter me batido e me chantageado! Coisas que amigas não fazem.
__ Desculpa, Isa! Isso foi necessário...
__ Ai Stéfany não me faça rir. Agora por favor, vá embora que eu não quero ver você nunca mais.
Stéfany foi se afastando do caminhão da mudança lentamente, voltou-se mais uma vez para mim e disse:
__ Boa viagem.
Não respondi, não responderia nunca. Mas ela voltou até mim mais uma vez.
__ Só queria agradecer por você ter terminado com o Leandro, hoje ele me pediu em namoro.
Fingi não ter ouvido e continuei mexendo nas caixas, mas assim que ela foi embora me virei para vê-la se afastar até sumir no horizonte.
"Onde será que o Alexandre está? Espero que ele esteja com saudades minhas. Tomara! Quem sabe. não é? Eu também sinto falta dele, mas não sei, essa briga que tivemos..."
__ Isa, posso falar com você por um momento - Era Laura parada na minha frente com seu eterno ar de grande superioridade.
__ O que você quer agora? Você não ia embora para Paris? Porque ainda fica me atormentando?
__ Olha, Isa, eu não tenho culpa do que aconteceu. Você fez sua escolha...
__ Mas você não veio aqui para falar isso. O que você quer?
__ Eu queria me despedir de você. Não queria que nossa amizade terminasse assim. E eu também vim aqui para te desejar felicidades. Eu estou indo hoje para Paris... Vou começar minha nova vida, numa nova cidade e com o Nelson,a razão da minha existência.
__ Que bom, fico feliz por você e que você seja feliz nessa sua nova vida espetacular.
__ Adeus, Isa! Talvez eu te escreva uma carta, porque você sabe, você me trouxe a felicidade de volta! Você! Eu serei eternamente grata.
Laura entrou no seu carro e fechou a porta. Ficou ainda um tempo parada. Assim que ela ligou o motor eu lhe acenei um "Adeus" que me foi retribuído com um sorriso.
Agora já eram duas as pessoas que tinham voltado para me assombrar. Esses fantasmas. Fantasmas do recente passado.
__ Isa, minha filha! Vamos! Entre aqui no carro. Já está tudo pronto para irmos embora, vamos!

Pela estrada só pensava em Alexandre e tudo que tinha acontecido. E como tudo tinha sido rápido. Não houve tempo suficiente para nada. Teria o Alexandre me esquecido?
__ O que houve, filha? Porque você está tão quieta?
__ Não é nada, mãe. É só a mudança. Você sabe que eu não gosto de ficar me mudando - "Ah! Estava adorando mudar de cidade".
__ Olha, Isa. - parou por um momento antes de planejar a próxima frase - Dessa vez nós ficaremos por lá bastante tempo. Bastante.
__ Assim espero, mãe. Assim espero.
As ruas passavam por mim e eu não ligava para elas. Várias placas de trânsito ficaram para trás, mas uma me chamou atenção. "20Km" Faltavam vinte quilômetros para por os pés na minha nova casa. Resumindo, faltavam vinte quilômetros para esquecer meu passado e me preocupar com meu presente e futuro.
Passamos pela estrada da cidade. Por curiosidade, uma entrada feia que caracterizava a péssima cidade onde iria passar a viver melancólica.
Uma casa amarela me surgiu na visão. Até me assustei com aquela cor horrível. Minha mãe estava feliz era isso que me estimulava sorrir.
Chegamos, finalmente.
Entramos na casa. Não era de todo mal.
__ Você já está matriculada numa escola, Isa. Amanhã você tem aula.
"Já? Aula? Pensei que teria uns dias de folga".
__ Já?
__ Já sim. Não é bom você ficar perdendo aula, ainda mais agora em dezembro.
__ Mudar de escola em dezembro. Só eu mesma.
Quando falei isso minha mãe já tinha saído da sala.

Tocou o sinal da 1ª aula e eu estava na sala, dessa vez não tinha sentado no canto, mas no meio da sala. Era aula de alguma coisa que eu nem me forcei à prestar atenção. Eram vários rostos que eu não conhecia. Alguns meninos me olhavam e davam risadas. Um deles até piscou para mim. "Aff" Os sinais das aulas tocaram e um menino feio falar comigo.
__ Eai gatinha! Tá afim de sair comigo?
__ Estou afim de vomitar depois de ter escutado isso. Agora sai de perto de mim. Nunca mais se aproxime.
Estava sozinha em meu canto quando o sinal tocou e todos os alunos estavam eufóricos. O professor entrou e eles nem pararam. Parecia que não tinham respeito por ele.
__ Silêncio, classe! Para os seus lugares! Vamos!
Não, não podia estar acontecendo isso de novo, o meu novo professor de física era o mesmo. O mesmo de antes - Alexandre.
Sem levantar os olhos dos livros, ele disse:
__ Parece que temos uma aluna nova hoje. - Alexandre, ao me ver ficou pálido, assustado - É você a aluna nova? - disse ele tremendo.
__ Sim, sou eu! - "Não é possível que isso esteja acontecendo! Não! Não comigo!"
Ele colocou os livros da mesa e sentou-se.
__ Seja bem vinda - disse friamente.
Alexandre começou a explicar aquelas coisas de Física que eu nunca entendo. Às vezes, nossos olhares se encontraram, mas logo ele parava de me olhar. Como sempre, não prestei atenção na aula e estava com medo, pois as provas finais estavam chegando.
"Não estou nem ai. O importante é que o Alexandre está na minha frente novamente".
Meu dia estava monótono. O barulho estrondoroso do sinal selou as aulas do dia. Todos os alunos saíram correndo. Eu estava como sempre atrapalhada e não conseguia guardar meu material. Quando consegui enfiar os livros na bolsa, olhei ao redor e vi que Alexandre continuava sentado com a cabeça baixa sem olhar para frente.
__ Porque você está aqui?
O silêncio tomava conta da sala, não sabia o que responder. "Porque ele está me perguntando isso? Eu não sabia que você estava aqui"
__ Eu estudo aqui agora!
__ Você sabe o que eu quis dizer! Não fiz essa pergunta medilcre, fiz uma pergunta séria!
__ Eu não sei! Eu me mudei pra cá! Não sabia que você estaria aqui!
Alexandre pôs-se a andar na sala nervosamente.
__ Apesar de tudo, isso é engraçado - nunca pensei que Alexandre fosse concordar com o que eu disse.
__ Perdoar é um ato divino que nem todos conseguem fazer. A vida nos prega peças e o destino parece que está querendo nos juntar novamente. Acho melhor fazer o que ele quer.
"Desde o primeiro dia em que passei a estudar naquela escola, minha vida mudou bastante, agora sim eu sei que foi para melhor".



FIM

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Capítulo DEZENOVE

Vários tubos adentravam por meu nariz e por minha boca. Não conseguia respirar nem ao menos podia falar. Apenas vi a imagem embassada de minha mãe vindo até mim quando percebeu que eu acordava.
__ Minha filha! Que bom que você acordou! Eu quase tive um ataque do coração quando te vi caída na sala. Porque você fez isso? Porque tentou se matar?
"Não me faça falar a verdade. Eu apenas queria paz".
Minha mãe me olhava fixamente esperando uma resposta minha. Me esforcei para conseguir falar.
__ Quero falar com Laura. Onde ela está?
__ Minha filha, a Laura deve estar com o amigo dela que sofreu um acidente. Mas tem uma outra pessoa querendo falar com você. Posso deixá-lo entrar?
Afundei minha cabeça no travesseiro, estava deitada numa daquelas desconfortáveis camas de hospital, vestida com uma roupa que não vestia nada. Ainda bem que tinha um cobertor sobre mim.
__ Quem quer falar comigo?
__ O seu professor de física. Não é adorável? Até o seu professor se preocupa com você.
__ Eu não quero falar com ele.
__ Bom, eu vou deixá-lo entrar, ele insistiu tanto. Seja simpática com ele, sim?
"Simpática, simpática. Queria mesmo é ter morrido, nem pra me matar eu sirvo! Nem isso eu consegui fazer direito".
Alexandre entrou no quarto. Ainda estava com os machucados da briga com Nelson. A camisa que agora estava amassada e manchada com sangue era a mesma camisa que tinha usado na primeira aula que tive com ele.
__ Preciso falar com você e mais rápido possível, por isso não me interrompa.
Fiquei olhando bem nos olhos de Alexandre. Ele tomou fôlego e começou a falar.
__ Eu tomei uma decisão, Isabela! Sinto que tudo o que aconteceu entre nós não ter dado certo, mas não será por isso que nossa amizade acabará. Eu pedi para sair da Escola. Estou indo para outra cidade. Quero recomeçar minha vida do zero.
"Recomeçar a vida... Já vi essa história antes. Agora ele arranja uma nova escola e uma nova tonta para seduzir".
__ Eu não queria que acabasse assim.
__ Mas acabou! Agora é cada um para o seu lado. Não podemos mais fazer nada. Não podemos voltar no tempo para consertar nossos erros.
__ Espero que você seja feliz, Isa. Até quem sabe um dia. Talvez o destino ainda nos junte outra vez.
Uma lágrima saiu dos meus olhos e percorreu meu rosto. Nunca havia chorado por esse motivo. Não queria que ele fosse embora. Realmente não queria. O meu maior sonho nesse momento seria recomeçar tudo. Quem sabe nascer de novo não resolveria meu problema.
"Viu só, Isa! Se você estivesse morta pelo menos não estaria ouvindo isso! Ah! Que vontade de deixar de existir. Morrer só um pouquinho!".
__ Isa? Você está me ouvindo? Bem, eu já vou indo. Meu avião já vai sair.
Alexandre saiu do quarto sem nem se despedir. Apenas disse "Meu avião já vai sair" e saiu. "Pronto. Agora sim definitivamente terminou. Esse plano que montei com a Laura só me serviu para perder meu professor! Eu não precisava fazer isso! Ele já era meu".
__ Não é mais...
Minha mãe entrou no quarto quando Alexandre saiu. Ela passou suas mãos sobre minha cabeça e me olhava com cara de piedade.
__ Eu quero e preciso falar com a Laura. Urgente! Chame ela onde quer que ela esteja.
__ Minha filha, eu vou fazer o possível. Não sei aonde ela está.
__ Procure por ela. Tente ligar no celular dela...
__ Tudo bem, Isabela. Eu vou tentar, mas agora tente descansar.
Fechei os olhos.


Laura logo chegou e me acordou. Pedi para que minha mãe se retirasse.
__ Olha só o que esse seu plano idiota causou. Você depois de tudo ainda acabou se dando bem e eu estou numa cama de hospital sem o Alexandre do meu lado.
__ Eu não posso fazer nada. Se o Alexandre descobriu tudo, a culpa foi sua. Isa, eu não quero discutir com você. O Nelson está se recuperando e quando ele ficar bom, a gente vai embora para Paris. Vou abrir uma nova Galeria lá...
__ Todos estão com planos menos eu que estou aqui imóvel. Minha vida acabou.
__ Não fale assim, Isa. Você é jovem e irá superar tudo isso rapidamente.
Apenas o que fiz foi concordar com o que Laura disse. Ela foi se afastando e saiu do quarto. O soro continuava entrando por minhas veias e resolvi dormir de vez. Assistia em silêncio o que eu não queria mais enxergar.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Capítulo DEZOITO

Laura passou por Alexandre e desceu as escadas correndo. Ele estava desesperado e não sabia o que fazer. Nem ele nem eu.
Aproximei-me de Alexandre e o abracei tentando consolá-lo, mas ele me evitou e desceu as escadas também. Apenas fiquei olhando de cima da escada. Nelson sangrava muito. Laura pegou o telefone e discou para um médico.
"Meu Deus! Olha o caos que tudo isso se transformou. Maldita hora em que eu aceitei aquele trato".
Eu estava imóvel. Nunca havia presenciado tal situação e devido ao isso, não sabia o que fazer. Laura havia pego algumas toalhas e agora enxugava o sangue que jorrou de Nelson. De repente a casa se encheu de enfermeiros. Nelson foi colocado em uma maca e o levaram para dentro da ambulância. Laura entrou junto e foram embora em direção ao Hospital mais próximo.
Alexandre subiu as escadas e parou na minha frente.
__ Saia dessa casa agora! Anda! Vai embora!
__ Você não pode fazer isso! Não pode me expulsar da sua vida.
__ Não só posso, como estou fazendo. Sai daqui! O que você quer que eu faça para você sair daqui?
Ouvi passos da escada. Logo vi que Leandro estava subindo.
__ O que está acontecendo aqui? Qual o motivo dessa gritaria? Porque tem sangue ali embaixo?
__ Não se intrometa, meu filho! Eu preciso resolver um assunto.
__ Assunto?! Com essa ai? O que a Isabela tem a ver com você? O que vocês tem a resolver? E alguém pode falar porque tem sangue na escada?
O silêncio prevaleceu. Leandro estava indignado com o que acontecia. Ele apenas olhava o pai. Nem arriscava me olhar. Depois do que aconteceu entre nós, tudo ficou diferente. Nossa amizade, que por sinal nunca foi verdadeira por minha parte, hoje já não existia mais.
__ O que está acontecendo? Você realmente quer saber? - Eu disse chorando enquanto ria.
__ Cale a Boca! - Alexandre gritou com força suficiente para que uma veia em sua testa ficasse claramente visível - Cale a Boca! O que você está fazendo? Você está louca?
__ O que está acontecendo, meu querido, é muito simples. Acontece que o papai aqui não é nada do que você imagina.
__ Pai, o que ela está falando? - Leandro perguntou com medo de ouvir a resposta.
__ Não é nada, meu filho, esta garota está louca!
Olhei nos olhos de Alexandre e depois num espelho que havia numa das paredes do hall. Difícil olhar no espelho com essa poça de sangue na minha frente.
Arrumei meus cabelos num côque improvisado. Fui até a porta. Parei com ela aberta e disse olhando para Alexandre.
__ Leandro, acontece que você não foi o único que teve um caso comigo.
Fechei a porta atrás de mim e decidi ir até o hospital. Na rua ainda podia ouvir gritos que vinham da casa de meu professor. O dia estava quase amanhecendo. Eu estava começando a pensar em mudar de cidade. Queria fugir, queria afugentar os fantasmas do meu passado, queria ver Laura e Nelson felizes. A culpada de todas essas desgraças se chama Isabela.
A rua estava vazia. De vez em quando passava um carro e buzinava para não me atropelar. Parei e comecei a refletir. Olhei para trás e resolvi voltar para casa.
Abri a porta. Atravessei a sala e fui para meu quarto. Peguei todos os remédios que pude encontrar e voltei para sala. Minha mãe ainda estava dormindo.
Sentei no chão ao lado dos remédios e comecei a engoli-los rapidamente. Tentava me matar, não que eu quisesse realmente morrer, mas precisava me desligar do mundo por um tempo. "Ah! Onde será que anda essa tal felicidade que parecia que todos conseguem, menos eu. Queria parar o mundo, parar e voltar no tempo, consertar tudo que eu fiz! Talvez seja por isso que algumas pessoas são felizes e outras não. Umas conseguem voltar no tempo e outras se limitam a sentar-se no chão e tomar remédios até ficar inconsciente. Não sei. Quem sabe seria melhor eu parar logo com isso. Não! Você não pode terminar algo já começado! Até o fim, Isa! Até o fim!".
Engolia cada vez mais rápido aquelas bolinhas coloridas, eu não me lembro bem o que era. Minha vista estava turva. Algum tempo depois apaguei.
Acordei com Laura me sacudindo e gritando meu nome. Olhei num canto da Sala e vi minha mãe correndo na minha direção. Não ouvia nada claramente. Parecia que eu estava numa piscina. Embaixo d'água e elas fora.
Fechei os olhos novamente e deixei minha vida à vontade de Deus.

sábado, 19 de setembro de 2009

Capítulo DEZESSETE

Alexandre saiu do Estacionamento com seu carro em alta velocidade. Tive medo dele provocar um grave acidente por causa de sua fúria. Chamei um táxi e pedi para ele me deixar em frente a casa de Alexandre.
A porta da entrada estava aberta. Entrei e ouvi barulho no andar de cima. Subi aquelas infernais escadas. A porta do quarto deles estava entreaberta. Ouvi vozes. Eram as de Laura e Nelson.
"O que eu devo fazer? O que será que eles estão fazendo? Comemorando a vitória? Ah! Não acredito que eu fiz isso com o Alexandre! Ele não merece isso".
Olhei para dentro do quarto. A cama estava toda desarrumada. Laura estava sentada nela e Nelson andava por todo cômodo.
__ Eu não sei não, Laura, mas parece que agora sim você vai ter o seu divórcio. Está feliz então, eu espero? - Disse Nelson enquanto enchia um copo com whisky e gelo.
"Depois eu entro. É melhor ouvir um pouco a conversa antes, ver se falam de mim".
__ Sim, estou feliz, mas não feliz como eu achei que estaria, estou me sentindo mal. Mal pela Isa e também pelo Alexandre.
__ Você só pode estar brincando! Depois de tudo o que fizemos para ficarmos juntos, você vai sentir pena do seu marido! Laura, agora a gente vai poder ter a vida que sempre sonhamos para nós. - Nelson nesse momento estava ao lado de Laura.
__ Eu sei, Nelson. Mas meu coração está dizendo que isso tudo foi errado! Não precisava ter sido assim. Já imaginou se a Isa conta tudo! Já imaginou a dor que o Alexandre iria sentir ao saber a verdade?
__ Eu falei para você não confiar nessa garota.
"Eu não vou suportar ouvir ele falar mal de mim".
Entrei no quarto de Laura. Ela me olhou com lágrimas nos olhos.
__ Isa?! O que está fazendo aqui?
Nelson pôs-se a andar pelo quarto ao me ver entrar, estava nervoso e ansioso pelos acontecimentos, mas tinha percebido que a pouco falara de mim comigo ali.
__ Achei melhor vir pra cá, sabe, para ver o que vai acontecer agora, e também para provar que você pode confiar em mim, Laura - Ajoelhei em frente a cama onde Laura estava sentada - Você se lembra daquele dia? Aquele dia que você parou o carro no acostamento e disse que não sabia o porquê, mas confiava em mim. Por isso eu digo, pode confiar, não farei nada que você não quiser que eu faça... Eu também estou me sentindo mal pelo que fizemos, você já deve saber... Alexandre não merecia aquilo... Ele não merecia o que fizemos. Você confia em mim. Eu confio em você - olhei friamente nos olhos de Nelson e depois me voltei para Laura - somente em você.
__ Agora não tem mais nada a fazer! O que foi feito está feito! Não podemos voltar atrás - Nelson dizia suas palavras friamente.
__ Isa, onde está o Alexandre? O que ele falou depois que saímos? - Laura chorava muito. O arrependimento a matava.
__ Ele saiu com muita raiva. Estou com medo que ele faça alguma loucura.
__ Ele não vai fazer nada. Conheço bem o Alexandre.
Laura se levantou e foi até o guarda roupa. Ela retirou uma mala preta da gaveta e começou a pegar algumas roupas.
__ Eu te ajudo, Laura - Nelson colocava de modo organizado as roupas na mala.
__ Para onde vocês vão? Vão me abandonar sozinha nesse barco afundando?
Laura parou de arrumar as roupas por um momento. Veio até mim e segurou minhas mãos nas dela.
__ Não querida, nós não vamos te deixar aqui numa situação como essa... Nós vamos sim, mas não agora... Antes temos que resolver alguns detalhes.
__ Quais detalhes? - Nelson perguntou surpreso pelo que acabara de ouvir - Pensei que a única coisa que tínhamos que fazer era pegar Alexandre com Isabela. E se for isso o combinado, bem, então está feito.
__ Qual o seu problema, Nelson? - gritei com força suficiente para deixar minha garganta em chamas - O que é que há com você? Não percebe que o que fizemos foi terrível?! E afinal de contas porque você não gosta de mim? Já que você nunca se dá ao trabalho de ser gentil comigo. O que há com você?
__ Agora não é hora para drama. Algumas pessoas se dão bem, outras não. Pronto, resolvido. Está claro o suficiente pra você?
Ouvi passos na escada. Sai do quarto e olhei em volta. Não tinha ninguém ali. Quando voltei, Laura recomeçava a arrumar as malas.
__ Então quando você vai? Eu preciso saber, Laura.
__ Ainda não tenho certeza, Isa. Mas em breve.
__ Claro! O mais breve possível, eu presumo. Eu nunca deveria ter aceitado participar desse plano!
__ Mas agora já foi! Não adianta chorar pelo leite derramado - Nelson estava perdendo a paciência comigo.
Eu deveria estar começando a ficar louca, pois ainda escutava passos na escada.
__ O importante agora é o Alexandre não descobrir que foi enganado. Ele nunca poderá saber que isso foi armado.
A Porta, que estava entreaberta, se abriu por completo e a figura pálida de Alexandre surgiu do escuro...
__ Isso tudo não passou de um plano? Você me enganaram e o tonto aqui caiu direitinho.
Pela primeira vez vi Alexandre chorar. Eu estava atrás de Laura porque não queria que ele me visse, mas meu esforço foi inútil. Alexandre passou a me olhar.
__ Nunca acreditei que você fosse capaz disso, Isa! Me enganar assim. Eu te amei e pensei que você me amava também.
__ Alexandre?? O que está fazendo aqui? - perguntei antes de perceber que minhas pernas trêmulas não aguentariam o peso do meu corpo por mais muito tempo.
__ O que você estava pensando quando fez isso, Isa? Você estava louca?! Pensou que isso solucionaria os problemas?! Você não percebe que só arranjou mais um! E Você Laura? Você não é mais uma criança pra fazer esse tipo de coisa! Onde você estava com a cabeça? Se você queria se separar de mim, era só me avisar! Você sabe que o nosso casamento já estava por um fio mesmo, isso não faria diferença nenhuma quem pediria... Mas me trair! Me trair e depois ainda vir me falar tudo o que você disse hoje na Galeria! É muito cinismo! Muito cinismo! E ainda por cima eu tive que aguentar esse ai se intrometendo na conversa como se não fizesse parte dela... Você é o motivo!
Alexandre pulou por cima da cama até Nelson que estava de costas. Eles caíram no chão se debatendo, mas Alexandre se levantou rapidamente e pôs-se a esmurrar Nelson que tentava fugir da briga pela porta do quarto.
Apavorei com toda essa cena. Nunca havia visto o Alexandre brigar daquele jeito. Ele estava ficando cada vez mais vermelho e Nelson apanhava bastante. Gotas de sangue mancharam o chão. Como solução, Nelson foi saindo do quarto, mas Alexandre ainda o espancava. A escada se aproximava dos dois e a cena veio a minha cabeça. Gritei para Alexandre parar, mas tudo foi em vão.
Alexandre viu que as escadas se aproximavam e por isso parou por um momento com a luta, mas Nelson continuou correndo de costas enquanto olhava para seu inimigo. Nada seria possível naquele momento, foi inevitável. Apenas ouvi gritos de Laura e de Alexandre, mas isso não foi o suficiente para impedir que Nelson rolasse as escadas

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Capítulo DEZESSEIS

Ao vê-la, Alexandre me soltou, abotoou os botões de sua camisa e foi ao encontro de Laura.
__ Laura, Por Favor! Calma! Não é o que você está pensando.
__ Eu vi Alexandre. Não adianta negar. E com uma aluna!? Qual o seu problema? Ela deve ter a idade do seu filho!
__ Laura, se você puder me dar um minuto para lhe explicar tudo, você veria que não passa de um mal entendido.
__ Ah, sim claro, eu imagino como será sua explicação. Você provavelmente foi demonstrar à Isa alguma aplicação de Física, e então eu entrei enquanto ela tirava suas dúvidas escolares! Você não tem vergonha de seduzir uma aluna? Se fosse a primeira vez que isso ocorre!
Olhei friamente para Alexandre esperando que ele se explicasse, mas quem o fez foi Laura.
__ Você lembra o que aconteceu da última vez? Você quase foi demitido por andar por ai com uma aluna, e eu, acreditando na sua palavra, não me divorciei! Te dei outra chance e é assim que você me agradece?
__ Eu não "andava por ai" com aluna nenhuma! Aquilo foi um engano! Não aconteceu nada! - Gritou Alexandre.
__ Claro, foi um engano como esse aqui? - Laura perguntou com um sorriso no rosto enquanto apontava para mim.
Eu já não estava entendendo mais nada. Estava sendo tão vítima quanto Alexandre. Assistia ao show de Laura em silêncio.
__ Porque isso Alexandre? Me dê um motivo! Deixe disso. Assuma o que você fez...
__ Laura, eu não posso negar que dessa vez eu senti algo pela Isa. Tente entender...
__ Eu entendo, Alexandre, mas não consigo aceitar que você não me contou. Esperou chegar num nível crítico. Esperou que eu o pegasse no flagra.
__ Laura, não é isso! Eu tive medo de te contar. Tive medo de sua reação.
__ Medo? Medo de quê? Você sabe muito bem que eu não protestaria se você tivesse me contado!
__ Olha Laura, coloque-se no meu lugar! E se você estivesse apaixonada por outro homem? Se me contasse sem ter feito nada, eu também não protestaria, mas tente entender como isso é difícil para mim!
__ Difícil pra você? Pra você? Claro, porque para mim está sendo um mar de rosas! Você não imagina qual a sensação de ser traída! Você nunca foi traído! Mas isso foi um erro meu. Eu também devia arranjar um amante para você entender!
Sei que não devia, mas ao ouvir Laura dizer isso, tive que me segurar para não rir naquele momento!
__ Isabela, eu pensei que fôssemos amigas, nunca imaginei que você fosse capaz disso. Se aproximar de mim por causa do Alexandre - Laura me olhava séria. Seu teatrinho estava começando a me irritar.
__ Olha aqui Laura! Não vou permitir que você fale assim comigo. Você sabe que eu nunca fiz isso - me segurei para não contar a verdade.
A porta se abriu e Nelson entrou na Sala. Todos o olharam menos Laura que fixou seu olhar em mim. Tentei não olhar para ela.
__ Por Favor! Saia daqui agora! Estamos resolvendo um problema familiar - Alexandre disse friamente sem olhar para Nelson.
__ Não fale assim com ele. O Nelson é meu... Sócio.
__ Ele poderia ser até o papa! Saia já daqui! - Alexandre gritava mais uma vez, agora com mais força.
Nelson foi até Laura e segurou seus braços enquanto olhava seriamente para Alexandre.
__ Está tudo certo aqui, Laura? - Perguntou Nelson
__ Sim, não se preocupe com isso, estamos resolvendo um probleminha.
__ Tudo bem então, eu saio. Estou lá embaixo se você precisar.
Nelson olhou mais uma vez para Alexandre e saiu.
__ Alexandre, você nunca foi sem educação. Sinceramente, você me decepcionou muito. Nunca mais olhe na minha cara.
__ Laura, por favor. Não vá.
"Não vá?! Ele precisava que isso acontecesse e agora quer explicar. Sem a Laura a gente pode ficar junto".
Laura saiu apressada e Alexandre a seguiu.
__ Deixe ela ir, Alexandre. Agora acabou tudo.
__ Você não entende, Isa. Eu não quero que acabe assim.
__ Se você realmente sente alguma coisa por mim, eu lhe peço que fique.
__ Não seja infantil agora, Isa. Isso aqui é uma conversa adulta. A Laura foi minha mulher há muitos anos, ela não merece essa traição.
__ Isso não foi uma traição... Me deixe explicar o que realmente aconteceu!
__ Eu não quero saber, Isa. Eu vou atrás da Laura...
Alexandre saiu da sala me deixando sozinha com meus pensamentos. Eu queria ter contado tudo a ele, mas por um desvio do destino não puder fazer.
Abandonei aquela sala que agora me dava nojo. Apaguei a luz e a escuridão tomou o lugar. Meu sonho estava se destruindo.

sábado, 12 de setembro de 2009

Capítulo QUINZE

Logo que desci do táxi entrei na Galeria. Era noite da inauguração, não podia perder tempo, nada podia dar errado.
Eram muitas pessoas. Havia quadros por todos os lados e vários fotógrafos. Não conseguia ver ninguém. De repente Laura desceu as escadas seguida por Nelson. Vários jornalistas a rodearam para ela dar entrevista. Levantei o braço para que ela me visse. Laura deixou os jornalistas falando com Nelson e veio até mim...
__ Isa, tudo certo?
__ Tudo. O Alexandre já chegou?
__ Sim, mas não vá se esquecer, só vai acontecer quando tudo estiver terminado, só quando a exposição terminar. Eu não quero que a minha Galeria fique conhecida por um escândalo!
__ Não se preocupe, Laura. Já intendi. Assim que a inauguração terminar.
Laura voltou para os fotógrafos e jornalistas que faziam relatos nos seus bloquinhos de papel. Alexandre colocou a mão nas minhas costas e disse:
__ Posso falar com você?
Segui Alexandre até um canto da Galeria. Ele estava com uma cara fechada. Nem olhou para mim.
__ Eu acho que a Laura está desconfiada! Ela sabe de alguma coisa?
__ Não! - Respondi assustada. Aquela pergunta me pegou de surpresa. - Porque você pensa isso?
__ Pelas circunstâncias. Ela mal fala comigo! Sem falar em outras coisas.
__ Deve ser apenas impressão sua! Provavelmente é por causa da inauguração, ela deve estar nervosa quanto a isso.
__ Bem, talvez seja isso mesmo. Espero que seja.
__ É isso sim, não preocupe com coisas que não aconteceram - olhei nos olhos e lhe dei um sorriso - O que você acha de nos encontrarmos depois que isso aqui terminar?
__ Claro, seria ótimo, mas onde? Isso tudo é um salão! Quase não existe salas reservadas.
__ Claro que existem algumas, o escritório por exemplo, é um ótimo lugar.
__ Tudo bem, então quando as pessoas forem embora nos vemos lá
A inauguração foi um grande sucesso. Vários quadros foram vendidos. As pessoas já estavam indo embora quando Laura me olhou e autorizou a dar início ao plano. Procurei por Alexandre. Ele estava na saída. Chamei ele para subirmos. Ele disfarçadamente despediu-se de alguns amigos e me seguiu
__ Não acredito que estou fazendo isso! É muita loucura! Nós podemos ser pegos aqui, Alexandre!
__ Nós podemos ser pegos em qualquer lugar e a qualquer hora! Não vai acontecer agora!
Subimos as escadas e entramos no Escritório. Trancamos a porta.
Alexandre veio na minha direção e me deu um beijo. Suas mãos correram por meu corpo até ele agarrar minha coxa.
Estava nervosa porque a qualquer momento alguma coisa iria acontecer. Eu já estava sentada sobre a mesa de Laura e Alexandre continuava a me sufocar com seus beijos. Logo suas mãos começaram a subir e tocaram meu rosto. Afastou meus cabelos e começou a me olhar profundamente. Ele me olhou forte e me beijou mais uma vez. Sussurrei palavras em seus ouvido. Enquanto estávamos nos beijando, Laura entrou pela porta.
__ Interrompo? - disse ela

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Capítulo CATORZE

Sai de casa correndo, estava quase um hora atrasada para a escola. Tinha ido dormir às 4 horas da manhã passada por ter ficado pensando na minha conversa com Leandro.
"O que será que ele vai me dizer hoje? E a Stéfany? Ela não pode reclamar sobre nada. Eu cumpri o combinado. A única pessoa que vale a pena encontrar hoje é o Alexandre. Mas ele não conta, porque ele sempre vale a pena. Ah Meu Deus! Eu estou horrível! Nem tive tempo para me arrumar pro Alexandre! Credo! Quando eu chegar na escola vou correr para o banheiro e só saio de lá quando meu cabelo estiver no mínimo normal, porque bonito ele não vai ficar mesmo. Pelo menos hoje eu não tenho que beijar nem abraçar o Leandro. Pelo menos isso".
Quando cheguei na escola a primeira aula já estava acabando, aproveitei o tempo que tinha até que soasse o sinal e fui ao banheiro. Lá eu encontrei Stéfany. Ela me olhou pelo espelho, mas nem parou. Continuou no que estava fazendo. Eu me aproximei. Tirei um pente da bolsa e comecei a arrumar meu cabelo.
__ Hoje acabei me atrasando para a aula. Perdi completamente a noção de tempo.
__ É... Eu Percebi!
__ Hã... Aconteceu alguma novidade? Alguma coisa interessante?
__ Não! Nada que não seja da sua conta!
Stéfany ia saindo do banheiro quando a chamei.
__ Ei! O que houve? Porque você está sendo tão rude comigo? Eu terminei com o Leandro para você poder ficar com ele! Não terminei? O que mais você quer?
Ela virou-se bruscamente e fechou a porta do banheiro.
__ Ele me contou que vocês terminaram
__ E então? - Perguntei já adivinhando o que ela iria dizer
__ Ele não falou mais nada. Além de ter sido seco comigo.
__ O Leandro não te pediu em namoro então, mas ainda é cedo, nós terminamos ontem, o que você queria?
__ Queria que ele cumprisse o que prometeu no dia do aniversário.
Fiquei em silêncio por um momento tentando imaginar o que ele teria dito a ela. Perguntei.
__ O que ele prometeu?
__ Ele disse "Eu só não namoro com você por que estou com a Isa, mas assim que ficar livre você é a próxima".
__ Como?! Ele me falou que tudo não significou nada para ele. Você só está falando isso porque quer me fazer sentir ciúmes. Mas eu não ligo! E quer saber mais... Ele nunca iria namorar com uma garota chata e sem coração como você! Você tem pedra no lugar do coração! Ninguém gosta de você!
Stéfany, quase chorando, levantou o braço, abriu a mão e com toda a sua força me deu um tapa. Eu acabei caindo no chão. Stéfany saiu do banheiro sem olhar para trás enquanto eu não tinha forças para levantar.
Ouvi o sinal da Segunda Aula tocando. Levantei-me e corri para a sala de aula. Andava pelos corredores da escola apressadamente enquanto todos os outros alunos pareciam estar ali apenas para me atrasar.
Alexandre já estava na sala quando cheguei, nela havia poucos alunos. Muitos deles estavam por aí vagando pelos corredores, evitando o possível ter que participar das aulas seguintes.
__ Leandro me disse que você terminou com ele - Alexandre disse enquanto me puxava pelo braço até sairmos da sala.
__ Sim, achei melhor terminar com ele, você não acha?
__ Bem, eu não sei. Seria melhor que ninguém soubesse o que houve entre nós.
__ O que houve? "O que houve? Já terminou?
__ Sim, sabe, o que aconteceu no aniversário do meu filho.
__ Não se preocupe, professor. Eu não vou dizer nada sobre o que houve!
Ele me puxou pelo braço mais uma vez enquanto eu saia.
__ Não, Isabela, você não entendeu. Eu não quero que isso termine, eu só não quero que fiquem sabendo! Nós temos motivos para querer isso! Você é menor de idade e eu sou seu professor e sou casado! Você entende isso? Entende o quanto é perigoso! É por isso que eu preferia que você continuasse com o Leandro.
__ Eu não vou voltar com ele! Isso já deu o que tinha que dar - olhei para Stéfany. Ela estava sozinha no fundo da sala, lendo um livro.
Meu rosto ardia por causa do tapa de Stéfany. Alexandre me chamou novamente.
__ Minha esposa lhe convidou para almoçar em nossa casa hoje. Mas por causa do fim do namoro de vocês, acho que não haverá motivos para você continuar a frequentar nossa casa.
__ Diga a sua mulher, minha querida amiga Laura, que terei o maior prazer em almoçar com vocês. E não é por causa que eu terminei com o chato do seu filho que eu não vou mais poder visitar Laura e você.
Nesse momento, eu já não sabia se tinha gritado ou se ainda estava falando normal. Alexandre saiu da sala para chamar os outros alunos, mas o sinal bateu e as aulas do Alexandre acabaram. Arrumei meu material e sai da escola. No Estacionamento, Alexandre estava em seu carro. Ele me pediu com a cabeça para que entrasse. Entrei.
__ Então você é amiga da Laura? - Ele perguntou com cara de espanto. Continuávamos com o carro parado.
__ Bem, sim. "Estranho ser amiga da esposa do homem com quem eu saio". - Não somos grandes amigas, entende, mas talvez ela me considere por isso, porque eu namorei o Leandro. Ela sabe que terminamos?
Alexandre ouvia tudo parecendo não prestar atenção ou entender o que eu dizia.
__ Ela sabe que eu e o Leandro terminamos? - Perguntei outra vez
__ Sabe. Leandro nos contou. Eu não sabia o que fazer. Pensei que ele soubesse de tudo.
"Todo mundo já sabe. Só o idiota do Leandro que não".
__ Ele quem? O Leandro? - Perguntei para evitar confusão
__ Claro, quem mais poderia ser. Só ele poderia saber o que aconteceu, certo?
__ Bem...
__ O que? Alguém já sabe o que aconteceu? Quem, Isa? Quem?
__ Não se preocupe com isso. Já está resolvido.
__ Resolvido? Você está louca? Quem sabe?
__ A Stéfany, mas eu já dei o que ela queria
__ O que ela queria? - Alexandre finalmente se acalmara e tentava retomar as ideias - O que ela queria de você?
__ Ela quis o Leandro livre, e foi por isso que eu lhe dei.
Ficamos em silêncio. Alexandre tentava digerir tudo o que acabara de ouvir.
Rapidamente chegamos a casa de Alexandre. Ele desceu sem falar nada. Entramos pela sala e no sofá estavam Laura e Nelson. Laura, ao me ver, veio me abraçar.
__ Que bom que você veio, Isa! Precisamos conversar!
__ Claro! Posso saber o assunto?
__ Vamos até o meu quarto! Tenho pressa em lhe contar as novidades!
Laura pegou em minha mão e me puxou por aquelas escadas. Tropecei em alguns degraus, mas cheguei viva lá em cima. Entramos no quarto. Aquele paraíso dos meus sonhos. Sentei na cama e Laura me contou.
__ A inauguração da Galeria vai ser amanhã. Preciso que você esteja preparada.
"AMANHÃ?!"
__ Já! Eu pensei que isso ainda demoraria um tempo.
__ Eu também, mas estão querendo adiantar a inauguração por causa das férias que estão chegando, você sabe, no Natal os turistas aumentam muito.
__ Tudo bem, no aniversário eu já arrumei tudo. Tudo está preparado. É melhor descermos, lá embaixo estão o Nelson e o Alexandre.
__ Melhor mesmo, eles não gostam um do outro
Voltamos à sala.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Capítulo TREZE

Aquela manhã eu estava muito triste. Havia perdido a única amizade verdadeira que tinha conquistado. Me levantei do chão e fui até o local onde estava o telefone. Disquei o numero da casa de Leandro. Ele atendeu.
__ Leandro, eu preciso falar com você. É um assunto muito importante. Será que voce pode vir até minha casa?
__ Claro, meu amor. Espere-me que logo chego para namorarmos!
"Ai meu Deus! Eu mereço".
Coloquei o telefone no ganho e fui para a cozinha. Abri a geladeira e peguei um copo com água. Nesse momento eu precisava de tudo que pudesse me dar forças. Sentei no sofá e logo acabei adormecendo. Não sei se sonhei ou tive pesadelos, pois não lembrava. Apenas acordei com o Leandro me beijando. Seu beijo me dava arrepios cada vez que os recebia.
__ Vim o mais rápido possível! O que você quer? - Leandro tentou me beijar mais uma vez, mas dessa vez eu desviei.
__ Pare com isso, Leandro. Eu realmente preciso falar com você. Sente-se por favor.
Leandro ficou sério. Finalmente. Eu segurei suas mãos nas minhas e lhe olhei nos olhos. Respirei mais uma vez antes de conseguir coragem pra dizer o que eu queria.
__ Leandro, acho que deveríamos terminar.
__ Terminar o que?
__ Nós.
__ Nós? Por quê? Você está louca? Como voce decide isso assim de repente?! Não existe motivos para isso!
__ Não existe motivos?
__ Claro que não!
__ Desculpe, foi culpa minha ter visto você beijando a Stéfany, sinto muito.
__ O quê?
__ Eu vi vocês!
__ Mas aquilo não significou nada! Você sabe que eu gosto é de você!
__ Gostando ou não, eu quero acabar tudo! Acabou!
__ Tem que ter algum motivo! Ninguem acaba um namoro assim... Há outro homem nessa história?
__ Eu já te falei. Não quero ser vista como a menina traída. Eu já conversei com a Stéfany e tomei essa decisão. Eu vou deixar o caminho livre pra vocês.
__ Isa, eu não quero terminar. Aquilo não foi nada!
__ Como não foi nada?! Deixa de ser cara-de-pau. Eu vi tudo...
__ Ela chegou do nada e me beijou. Eu nunca queria ter beijado a Stéfany. Não faça isso com o nosso amor, Isa!
"Porque ele não nasceu mudo?"
__ Leandro, me entenda! Não dá mais! Eu... não... gosto de você!
__ Você não gosta de mim? Então porque está namorando comigo?
__ É justamente por isso que eu quero terminar. Por isso e por causa da Stéfany.
__ Então porque começamos?
__ Não sei! Isso foi um erro. Um impulso.
Ficamos em silêncio. Leandro desviou o olhar para o chão. Eu olhava para ele esperando alguma resposta. Depois de alguns minutos, ele se levantou e foi embora.
Fiquei paralisada por uns minutos, mas eu realmente estava feliz. Finalmente estava livre para ficar com o amor da minha vida. Minha mãe entrou na sala enquanto eu estava sentada no sofá.
__ Minha filha, o que aconteceu? Parece que uma manada com milhões de elefantes passou por aqui!
__ Fique tranquila, mãe! Apenas tirei um estorvo da minha vida.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Capítulo DOZE

Aquele dia de grandes revelações acabou e hoje estou em meu quarto esperando a dolorosa visita de Stéfany.”
Ela tinha ligado mais cedo pedindo para conversar comigo. Minha vida estava ficando cada vez mais intensa. “Será que aquela vaca filha da puta vai falar alguma coisa pra mim?! Ela nem tem caráter pra isso!” A campainha tocou.
Abri a porta.
- Olá, posso falar com você? – Era Stéfany.
- Você já me perguntou isso pelo telefone. Afinal de contas o que você quer falar? Se for pra me explicar algo não é preciso, eu já vi o suficiente.
- Posso entrar? Prefiro conversar sobre isso aí dentro.
- Entre, pode entrar.
Fechei a porta atrás de Stéfany enquanto ela começava a falar vagarosamente.
- Eu sei que você pode estar um pouco nervosa comigo, sabe? Por causa do que acontece. Não era pra você ter visto.
- Ah! Me desculpe. A culpa foi toda minha, se eu tivesse aparecido por lá outra hora!
- Não faça assim, Isa. Eu não quero brigar com você, eu gosto da sua amizade.
- Devia ter pensado nisso antes de sair por aí beijando pessoas comprometidas! – Gritei com todas as minhas forças.
- Arranje um espelho antes de vir me falar isso. – Ela disse calmamente entre risos. Olhou para minha direção e sentou-se na escada.
Eu estava paralisada. Não conseguia me mover.
- O que você disse?
Stéfany não respondeu. Apenas ficou encostada nos degraus olhando para os seus joelhos.
- Responda! Responda agora! O que é que você disse?
-Você está achando que é a santinha nessa história, mas não é! Eu sei de tudo!
Quando Stéfany falou aquilo, um arrepio subiu por meu corpo. Meu segredo estava sendo revelado.
- Tudo o quê? Fale logo!
- Eu beijei o Leandro por inveja! Eu tenho inveja de você! Você tem o amor da minha vida aos seus pés quer levar o pai junto? Eu vi o Alexandre te beijando. Por quê? Agora que você tem o Alexandre, por que ainda está namorando o Leandro? Deixe de ser egoísta, Isabela!
- Eu não posso! Você nunca iria entender.
-Não pode? Como não pode? O Alexandre te ama também. Não tem razão para você continuar com o Leandro! Fale a verdade! Você nem o ama!
- Eu odeio o Leandro!
Ela ficou em silêncio. Não esperava por esta resposta.
- Por que você namora alguém que não ama? Alguém que você odeia! – Disse isso e começou a chorar.
- Eu não odeio o Leandro. “Agora que eu já disse não tem mais volta, ela não vai acreditar.”
- Você disse que odeia! Disse que odeia o seu namorado! Mas você não entende, eu o amo. Do mesmo modo que você ama o Alexandre.
- Eu não amo o Alexandre.
- Claro que ama. Eu como você olha pra ele.
- Você está enganada.
- Então por que vocês estavam se beijando?
“O que eu digo agora? O quê?”
- Aquilo não significou nada. “Significou minha vida!”
- Eu não acredito em você! Você é uma mentirosa! Por favor, fale a verdade pelo menos uma vez.
- Eu... Nunca pensei que seria tão difícil... Contar pra você! O Alexandre a partir do dia que eu o vi, passou a ser a razão da minha vida. Eu usei o Leandro como um caminho mais fácil para chegar até o Alexandre. Eu desprezo o Leandro.
- Nunca imaginei que você fosse capaz de fazer isso! Achei que fôssemos amigas!
- Mas nós somos amigas! Esse foi o único jeito que eu achei para poder conseguir o que eu queria. Se eu soubesse que você gostava do Leandro, eu nunca teria aceitado o pedido dele.
- Ele pediu? Como? Quando?
- Quando você foi embora, naquele dia que fizemos o trabalho de física.
Ela se levantou da escada e ficou parada em frente a porta. Cheguei a pensar por um momento que ela ia cair. Mas Stéfany recomeçou com as perguntas.
- Você vai terminar com o Leandro?
- Claro que não! Por que eu faria isso? – Perguntei.
- Porque eu sei sobre o Alexandre.
Coloquei as mãos na cabeça para tentar afastar a dor de cabeça que me tomava todos os pensamentos.
- O que você vai fazer? Vai me chantagear?
- Sim – Stéfany respondeu sorrindo – Você usou o Leandro para chegar até o Alexandre e eu estou usando você conseguir o Leandro. É justo, não é?
- É justo – Respondi sem alternativas – É justo. Mas você não precisou do Leandro livre para beijá-lo.
- E você não precisou do Alexandre livre para fazer o mesmo.
Stéfany falou isso e saiu pela porta que deixou aberta.
Ajoelhei no chão e comecei a chorar.

Capítulo ONZE

Era domingo. Levantei e fui escovar os dentes. Me olhei no espelho e vi minha imagem. “Hoje é o pior dia da minha vida! É aniversário do Leandro. Não quero mais brincar desse jogo de aparências.” Naquele dia acordei cedo e sai para tentar comprar arranjar alguma “lembrancinha”, mas nem tinha idéia do que comprar.
Acabei comprando-lhe um filme, mesmo minha mãe tendo me dado dinheiro suficiente para algo mais interessante. “Leandro não merece nem este filme.” Fui até uma loja e comprei um vestido pra mim. Um balonê roxo maravilhoso. Usaria naquela noite exclusivamente para Alexandre.
O dia passou mais rápido para o meu desespero. Já era noite e eu era convidada de honra na festa.
Fui andando pela rua vazia e parei em frente a casa de Leandro. Ainda pensava se devia participar ou não do aniversário.
O silêncio prevalecia quando uma mão passou por meu ombro. Virei bruscamente quando uma boca encostou na minha.
Enquanto ele me beijava abri os olhos. Detestava o beijo de Leandro. Continuei ali depois de um tempo. Abraçada a ele. Tentava imaginar que quem estava nos meus braços era Alexandre, mas era impossível. “Ah, se você fosse o Alexandre. Se fosse eu te abraçaria até o fim dos tempos. Respiraria a sua respiração.”
- Feliz aniversário, Leandro. – Disse com lágrimas nos olhos. Me sentia tão triste de estar ali com ele. Com Leandro. Isso me doía fisicamente, tinha vontade de cortar os pulsos se isso resolvesse meus problemas.
- Obrigado, meu amor. – “Meu amor?”
- Meu amor?
-Sim, não foi assim que você me chamou outro dia, Isa?
- Ah, é claro... Eu me esqueço que somos... “Não deveria ter dito isso.” Mas não se preocupe... Meu amor... Hoje é um dia muito especial pra você. – Chamar o Leandro de “meu amor” era uma dor que eu não agüentava mais.
Entramos na sala e Leandro passou a conversar com os convidados. Olhei num canto e vi Stéfany sozinha ainda admirando a casa. Fui até ela que me abraçou forte.
- Queria mesmo conversar com você nessa hora. Preciso te perguntar algo muito importante.
“Você quer conversar um assunto sério comigo? Nós mal nos conhecemos!”
- Sobre o que você quer falar?- Perguntei fingindo interesse.
- É sobre o Alexandre.
- Sobre o Alexandre? “Sobre o Alexandre? Mas o que você pode estar querendo afinal de contas?”
- Sim.
- Então diga! Diga logo!”Se você vai falar sobre o que aconteceu no dia do trabalho de física então fale logo!”
- Eu acho que o Alexandre está dando em cima de mim e aprece que está dando em cima de você também! Acho que você ainda não notou.
“Filha, se você soubesse...”
- Sério? Mas por que você pensa isso? – Perguntei me controlando ao máximo. “Se eu pudesse rir agora!”
- Eu percebi uns olhares maliciosos em cima de mim. E também percebi que ele olha de um jeito estranho pra você!
“Era só o que me faltava! Essa canalha dá em cima de todas!”
- Eu nunca percebi nada... – Nunca soube mentir muito bem. Nesse momento eu precisava ser boa, mas não consegui. Me afastei de Stéfany. Agora estava precisando encontrar Alexandre e falar tudo o que pensava. Queria bater nele. E primeiramente queria ir embora daquele lugar.
Andei pela festa toda por quase meia hora até finalmente encontrar Alexandre. Ele estava deslumbrante. Todo de preto. Eu com o meu vestido maravilhoso. Tão maravilhoso! Leandro não tinha dito nada sobre isso ou sobre qualquer outro assunto, só tinha ficado me agarrando.
- Alexandre, posso falar com você por um instante?
- Claro, Isa! Vamos para um lugar que não tenha ninguém. Quero te mostrar uma coisa.
Passamos por todos na festa. Passei ao lado de Nelson. Ele me olhou e depois virou a cara. Perto dele estava Laura, que me encorajou ao meu ver Alexandre me puxando para fora.
Passamos pelo jardim e Alexandre me puxou até a rua. Não falávamos nada desde que saímos da festa, apenas trocávamos olhares. Ele ficou na minha frente e não fui capaz de lhe dizer uma única palavra. Ficamos apenas parados o mais próximo possível.
Ele colocou as mãos no contorno do meu rosto e me olhou no fundo dos olhos. Percebi que não me daria um abraço naquele momento.
Eu segurei seus pulsos enquanto ele aproximava sua cabeça em direção da minha. Senti sua respiração ofegante se aproximar cada vez mais. Minha boca pedia o seu beijo. Ele me puxou mais perto dele e então, pela primeira vez, pude sentir o sabor doce dos seus lábios.
Me senti nas nuvens, Minhas pernas ficaram moles parei de respirar enquanto Alexandre me beijava. Seu beijo era extremamente gostoso. Não queria parar nunca. Neste momento queria tirar toda a sua roupa. Não me importava mais com nada. Ele me largou e deu as costas.
Fiquei parada. Minha cabeça pensava mil coisas e meu coração batia como se fosse meu último dia viva. Uma lágrima correu em meu rosto.
- Por que você faz isso comigo? Por quê? – Agora chorava.
Alexandre olhou nos meus olhos e se aproximou novamente.
- Esse beijo não significou nada pra você?
Essa pergunta doeu no fundo do meu coração. Não tinha palavras para responder. Me aproximei de Alexandre. Minhas mãos corriam seu corpo.
Dei um beijo em sua bochecha e depois me aproximei de sua boca. Parei em frente a ela. Alguns segundos se passaram quando voltei a beijá-lo. Agora eu o agarrava. Passei a ter certeza do que queria.
Alexandre me apertava contra seu corpo cada vez mais. Eu podia sentir sua respiração junto a minha. Eu finalmente respirava sua respiração.
Nada passava pela minha cabeça. Nada. Toda energia do meu corpo estava concentrada no meu coração. Estava disparado. Tão bom se sentir assim!
Ele passou as mãos nos meus cabelos e me olhou nos olhos. Ficamos parados na calçada molhada sem dizer nada.
Pouco tempo depois Alexandre voltou para festa me deixando sozinha na rua. Fiquei imóvel nos primeiros minutos enquanto tentava me convencer que o que tinha acabado de acontecer não tinha sido fantasia.
Voltei para a festa. Havia mais pessoas do que antes. Tentei passar por elas, que dançavam, mas foi impossível. Procurei por Laura, mas não a vi em lugar algum. Nem ela nem Nelson. Leandro também havia desaparecido
Andei pelos cantos procurando por eles. Cheguei a passar pela porta da sala quando avistei Stéfany.
Ela estava de frente para mim. Junto dela estava Leandro.
Enquanto ele a beijava, Stéfany me olhava nos olhos.

Capítulo DEZ

Os dias de minha vida passavam cada vez mais rápidos. Minha vida estava de cabeça pra baixo. Meu professor de física tirava todo o meu tempo.

Agora estava namorando o Leandro. “É lógico que toda essa palhaçada é somente pra ficar mais perto do Alexandre. Não posso deixar que o Leandro perceba isso.” Aquele dia acordei com muita preguiça. Chovia muito. Minha cama estava muito melhor que o dia podia me oferecer.

Minha mãe entrou no quarto e me falou que havia uma mulher muito charmosa querendo falar comigo. Levantei da cama e desci as escadas ainda de pijama. Ao pé da escada estava Laura com um vestido deslumbrante.

- Isa, será que eu posso falar com você?

- Claro, Laura! Vamos até a cozinha... Eu só vou trocar de roupa. Fique um pouco com minha mãe!

Fui até meu quarto e coloquei a primeira roupa que encontrei. Troquei o mais rápido possível. Sai correndo. “Meu Deus! O que será que a Laura quer comigo a uma hora dessas?”

Parei no meio do caminho. Laura e minha mãe estavam começando uma conversa, uma conversa cobre mim. Me escondi atrás da parede e escutei.

- Então, Laura querida, eu já alertei milhões de vezes minha filha. Ela sabe muito bem o que pode acontecer.

- Sim, Helena! É bom mesmo a gente alertar nossos filhos. Mas conte-me, o que houve com o pai da Isa?

- A Isa não gosta muito de falar do pai. Ele me abandonou numa hora crítica. Quando eu realmente precisei dele. Isabela ainda era uma criança e ela amava muito o pai, que a decepcionou muito. Quando engravidei ainda estava estudando e o Augusto estava na faculdade. Ele estudava medicina e teve que largar tudo pra assumir minha filha. A vida sempre foi difícil pra nós. Um dia ele se cansou e foi embora. Me deixou sozinha com uma filha pra criar. Eu, depois disso, nunca mais ouvi falar dele.

- Entendo, já vi muitos casos iguais a este. É muito complicado.

- Complicado, querida? Queria ver se fosse com você. O que você faria se o seu marido fosse embora, talvez com uma mulher mais nova do que você, e te deixasse sozinha cuidando do seu filho?”

Meus sentimentos estavam aguçados. Apareci na porta e pude ver Laura olhando fixamente em meus olhos. “Preciso tirar a Laura daqui! Agora!”

- Mais complicado ainda aconteceu na nossa outra cidade. Acredita que uma professora foi pega com um aluno?

- É... Laura, eu estou pronta. Podemos ir? – entrei na cozinha interrompendo alguém a conversa que minha mãe acabara de começar.

- Acalme-se, minha filha! Relax! Eu aqui conversando com sua amiga, que por sinal ainda não sei quem é.

- Ah, claro, Helena. Eu no momento sou esposa do professor de física da Isa.

- Você? Achei que ele não fosse casado. Pelo o que a Isa fala dele...

Já estava ficando com vergonha. “Era só o que me faltava.”

- Bem, o papo de vocês está bom, mas a Laura precisa ir embora. Vamos?

Laura se levantou e me acompanhou até a porta. Minha mãe nos olhou entrar no carro e desaparecemos no horizonte.


- Onde estamos indo? – Perguntei depois de estarmos no meio do caminho. Minha mente viajava quando estava na estrada.

- Vou te levar até minha galeria. Quero que você conheça alguém.

“Alguém? Alguém quem? Meu Deus que mulher mais estranha.”

Passados alguns minutos arranjei coragem e perguntei, mesmo tendo medo da resposta.

- Com quem eu vou me encontrar?

- Com o Nelson, você se lembra dele? O homem da pintura.

“O homem da pintura? Mas por que eu vou conhecer o amante da esposa do meu professor? Isso não faz sentido... Nada disso faz sentido.”

Respirei mais uma vez antes de conseguir fazer minha voz sair da garganta. Estava presa.

- Por que você vai me apresentar ao Nelson? Quero dizer, eu não entendo qual o propósito.

Laura agora olhava para mim e não mais para a estrada. Estava séria e com lágrimas nos olhos.

“Não olhe para mim dessa forma outra vez! Olhe para a estrada! Olhe ali na frente! Está vendo a estrada aí?”

A velocidade do carro foi diminuindo aos poucos até parar no acostamento. “Por que paramos?”. Estava em pânico.

- Eu gostaria muito que você conhecesse o Nelson, sabe? Para que você me entenda. Não quero ser vista como a mulher que trai o marido por diversão. Eu quero que você me entenda. Eu preciso. Eu não sei explicar, mas parece que você é a única pessoa em quem eu posso confiar. Eu não entendo. Eu mal a conheço. Confiei em você assim que a vi. Assim que a vi nos braços de Alexandre. Mas não por isso, entende? Não porque você estava abraçada nele, mas porque eu confio em você. Simplesmente confio.

Ela ligou o carro e continuamos pela estrada. Tudo era silêncio. Eu não dissera nada depois de tê-la ouvido. O carro parou em frente a um prédio. Descemos e começava a chover. Fomos entrando. O lugar era bem estruturado, havia muitos quadros. “Claro que há quadros, é uma galeria.” Subimos as escadas e entramos na sala da diretoria. Havia um homem de terno. Ele estava de costas. “Se curiosidade matasse.”

Continuei olhando para ele quando Laura passou por mim. Ela se aproximou dele e o beijou.

- Quero que conheça uma pessoa. Essa é a Isa.

Nelson virou-se e só assim pude ver seu rosto. Ele me olhou da cabeça aos pés.

- É essa a garota?

“É essa a garota? Poderia ter sido mais educado comigo. Educação não faz mal a ninguém.”

- Sim... Ela concordou em nos ajudar.

- Será que isso vai dar certo, Laura? Você nem conhece essa garota.

Nelson falava sobre mim como se eu não estivesse ali. “Como a Laura pode trocar o Alexandre por este homem tão rude?”

- Não se preocupe – disse eu – Eu não vou estragar nada. Eu também dependo desse plano, não é mesmo, Laura?

- Sim, querida. Todos nos estamos com a corda no pescoço.

Sentei-me num sofá verde que havia no escritório. Laura acendeu um cigarro e começou a andar em volta de uma mesa de ébano. Parou, olhou nos meus olhos e disse:

- Não se esqueça, Isa. Eu confio em você.

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PEDIMOS DESCULPAS PELO NOSSO ATRASO NAS POSTAGENS.


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Capítulo NOVE

Cheguei na sala depois de descer aquelas intermináveis escadas. Quantas vezes eu já tinha descido aqueles degraus? Leandro veio na minha direção com um ponto de interrogação no lugar da cabeça.
__ Você não pegou as folhas?
“As Folhas! Malditas folhas, tinha me esquecido por completo delas”.
__ Não consegui encontrar folha nenhuma – Respondi olhando para Stéfany, que continuava encantada com aquele lugar. Ainda estava examinando todos os cantos possíveis. “Não deve nem ter notado que eu sai”.
__ Tudo bem, essa casa é um labirinto mesmo, ninguém nunca encontra nada. Eu vou até lá em cima buscar as folhas e já venho.
“Espero que ele não entre no Ateliê como eu fiz”.
Leandro seguiu pelas escadas e eu fiquei com Stéfany. Ela agora olhava para mim com uma feição muito alegre e eu apenas pensava no que Laura havia me dito. “Tudo tem que dar certo! Mal posso esperar por esse momento”. Um grande barulho tomou conta do lugar. Eu assustei, pois estava calma. Stéfany se levantou de onde estava sentada e tirou um celular do bolso. Ela atendeu.
Nesse momento, a porta da casa abriu. Olhei na direção e vi Alexandre entrar deslumbrante pela porta. Meu coração começou a palpitar de emoção. Ele veio caminhando em minha direção. Stéfany ainda falava no celular.
Sem desligar a ligação, ela deu um “oi” para Alexandre e tornou a sentar-se.
Alexandre me deu um beijo na bochecha, aqueles beijos que são ao mesmo tempo formais e íntimos, mas que hoje em dia se tornou um cumprimento banal. Não para nós dois. Nós sabíamos que era muito mais do que apenas “ser educado”.
“Ele me deu um beijo, oh. É melhor eu me sentar”. Não conseguia me mover. Alexandre já tinha me cumprimentado, mas continuava em minha frente.
Pouco tempo depois, Stéfany desligou o celular e me olhou de um modo desconfiado. Depois se virou para Alexandre e disse entre risos:
__ É melhor eu sair, acho que vocês querem conversar. Devo estar interrompendo.
“O que essa filha da mãe está fazendo? Me encarando com cara de “Eu seu de tudo”. Você não sabe de nada! Está me ouvindo? De Nada!”.
Não podia acreditar que isso estava acontecendo. Meu mundo estava prestes a desabar. Se Stéfany tivesse mesmo percebido tudo, eu estaria em suas mãos. Olhei para Alexandre e ele também estava preocupado. “Ele não podia ter feito isso. Não agora que tudo parecia estar dando certo”. A minha maior preocupação, até então, era o que poderia acontecer se Stéfany contasse tudo a Leandro.
Alexandre entendeu minha preocupação e me abraçou calorosamente. Me senti confortada ao por minha cabeça em seu peito. Assim era o único jeito que eu poderia me sentir calma.
“Pelo menos nem Stéfany, nem Leandro estão aqui. Eles falam demais”. Certas coisas não precisam ser ditas. Já estão entendidas sem precisar falar nem ao menos uma única palavra.
“Ah, Alexandre, como eu te amo, você não tem ideia, se você soubesse. Ah, se você soubesse. Se você me amasse apenas a metade do que eu te amo. Te Amo. Te Amo. Gritar bem alto, antes que isso me mate. Eu te Amo! Está me ouvindo?”.
Estávamos mais uma vez abraçados. Podia sentir novamente seu coração batendo junto ao meu. Éramos um só outra vez. “Esperei tanto por isso, você nem imagina”.
Alexandre me apertava com força, parecia que tinha ouvido meus pensamentos. Talvez tenha ouvido mesmo, já não me lembrava se tinha falado ou pensado tudo aquilo. De qualquer maneira, nós sabíamos o pensamento um do outro. As palavras eram desnecessárias.
Alexandre agora me deixava sozinha com meus pensamentos. Não queria mais fazer nada, estava muito bem do jeito que estava quando uma mão passou por meus ombros. Pensei que fosse Alexandre, que ele havia voltado para me beijar. Aquela mão estava me dando arrepios.
__ Sim, meu amor!
Virei quando percebi a cara de excitação de Leandro. Ele estava surpreso com minha fala e eu percebi que havia feito a maior besteira de minha vida. “Tinha que ter falado nisso, não é Isa? Como eu sou idiota!”.
__ O que você disse Isa? Disse “meu amor”!
Leandro olhava nos meus olhos procurando algo para dizer. Algo que coubesse naquela estranha situação. “Pare de me olhar assim”. A resposta não está escrita na minha testa! Pense Isa! “Pensa em algo pra dizer antes que esse idiota estrague tudo mais uma vez”.
__ Eu estava brincando – Disse seriamente. Percebi que ele não acreditara no que estava ouvindo. “Melhor eu dar um sorriso daqueles”.
Sorri. Ele agora sorria de volta.
__ Isa, sobre o que você disse...
“Oh não! De novo não! Porque não cai logo um raio na minha cabeça?”.
__ Eu queria te falar uma coisa...
Meu estômago estava começando a doer. Já estava prevendo minha morte antecipada quando uma luz surgiu por entre a porta.
__ Leandro, sua casa é o máximo. Sem falar que é enorme.
“Nisso eu concordo com você”. Respirei fundo e peguei as folhas que estavam nas mãos de Leandro.
__ Vamos logo fazer esse trabalho... Quero terminar logo com isso!
Voltamos para o redor da mesa e Leandro animado resolvia todos os exercícios. Não estava nem prestando a atenção, por mim ele poderia fazer qualquer coisa. De vez em quando, ele pedia minha opinião e eu concordava com tudo.
As horas passavam por mim e rapidamente acabamos o trabalho. Stéfany também não tinha feito nada. Leandro fez o trabalho e junto com seu nome, mais dois iriam ganhar uma boa nota. Ela foi embora assim que seu celular tocou mais uma vez. Ficamos a sós. Leandro e eu.
__ Queria terminar aquela conversa que começamos antes de fazer o trabalho, tudo bem? – Perguntou e colocou sua mão no meu ombro direito.
__ Claro, porque não? – “Quem mandou dizer ‘meu amor’? Agora agüenta!”.
__ Eu queria te fazer uma pergunta a algum tempo e só agora criei coragem...
__ Pode perguntar. “Eu não tenho escapatória mesmo”. Leandro, você está bem? Você está ficando vermelho?
__ Você quer ser minha namorada?
Agora eu ficara vermelha. Meu coração disparou. Precisei me sentar. Não se passava nada em minha cabeça. O que eu poderia fazer numa situação dessas?
__ Agora quem está vermelha é você! Não precisa responder agora se não quiser...
__ Sim ,eu quero ser sua namorada. “O que?! O que eu disse? Não pode ter sido eu. Ah, o que eu não faço pra esse garoto se calar”.
Leandro veio em minha direção. Colocou os braços em volta de minha cintura. Ficou bem próximo de mim. Colou seu rosto no meu e me deu um beijo.
Enquanto ele me beijava, pensava. Pensava muito. Minha mente viajou com a intenção de não sentir aquele beijo. “Pelo menos com um namorado, não vão perceber que eu amo meu professor. Ah, Leandro, você me dá nojo, você nem sabe o quanto!”.
Olhei nos seus olhos e ele me beijou mais uma vez.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Capítulo OITO

Me virei para Laura. Ela agora estava de pé. Firme como uma rocha. Minhas pernas ficaram trêmulas ao vê-la recuperada. Enquanto ela chorava, pela primeira vez, eu tinha me sentido superior, mas agora Laura voltava ao seu ar inatingível. O seu ar de sempre.
__ Eu vi você e o Alexandre.
Minhas pernas pareciam se desmanchar aos poucos, tremia mais do que nunca. Paralisada, olhei de novo para Laura que acendeu um cigarro e puxou uma cadeira. Sentei no chão mais uma vez. Agora eu chorava. “Não pode ser verdade! Ela vai realmente jogar isso na minha cara!”. Recuperei minha energia e minha coragem.
__ Eu já sabia, eu vi você parada na porta – “Pronto! Falei!” – Você não ia me pedir um favor?
__ Antes de falar sobre isso, quero saber o que você sente pelo Alexandre.
“Já que estamos colocando tudo em pratos limpos, vou falar tudo”.
__ Estou esperando sua resposta...
__ Eu desejo o Alexandre com todas as minhas forças. Sonho com ele todas as noites e o amarei pelo resto de minha vida.
Agora sim estava começando a ficar nervosa. “Isto está muito estranho”. Havia alguma coisa que não me deixava confiar na sinceridade de Laura.
__ Eu compreendo você! Entendo quando amamos uma pessoa e não podemos nos entregar a essa paixão...
Laura estava séria, sua cara estava começando a me dar medo. Meu nariz inalava o odor da fumaça do segundo cigarro de Laura quando ela respirou fundo, tomou fôlego e escolheu suas palavras com sabedoria.
__ Eu quero me separar do Alexandre. E quero que você me ajude a fazer isso... Se você me ajudar, terá o campo livre para ficar com ele.
__ Eu não consigo imaginar como nós poderíamos fazer isso.
__ Mas eu sei como e é por isso que preciso de sua ajuda. Então... Você aceita o que eu tenho para propor?
Nesse momento eu não tinha nada a perder. Sem hesitar me dirigi até a pintura que Laura havia feito. Ela apagou seu cigarro num cinzeiro e se colocou atrás de mim. Eu olhei o quadro. A felicidade de Laura e principalmente o amor sincero que ela nutria por Nelson, me fizeram tomar uma decisão. Uma lágrima correu por meu rosto quando falei minha resposta.
__ SIM, EU ACEITO.
“Essa foi, sem dúvida nenhuma, a mais importante decisão em toda a minha vida. E também o momento mais feliz que passei. Era como se eu estivesse assinando um contrato e o Alexandre fosse o pagamento”. Nem conseguia acreditar que o meu maior sonho se tornaria realidade.
Um grande acordo esse. Quem diria que Laura iria me fazer essa oferta... Me entregar o Alexandre numa bandeja de ouro pra ficar com um pintor. “Nelson”. Laura agora sorria, sorria tanto que chegava a me assustar, mas eu depois me dei conta que eu também estava agindo da mesma forma. Olhei mais uma vez para o quadro.
“Esse provavelmente não vai pra nenhuma exposição”. Selei o nosso acordo com uma pergunta relevante.
__ Quando é a inauguração da Galeria?
__ Ainda não tem data certa, mas sei que será logo. Não se preocupe, tudo vai dar certo no final.
“Tudo vai dar certo no final! Tudo vai dar certo no final!”. – pensava tentando me convencer que, realmente tudo daria certo.
__ É melhor eu descer então. Eles já devem estar se perguntando onde eu estou.
__ Eles quem? – perguntou Laura surpresa. Talvez tivesse pensado que estava me referindo a Leandro e Alexandre. Seria impróprio seu marido encontrá-la pintando aquele quadro. Mas Alexandre não estava em casa.
__ Leandro e Stéfany.
__ Quem é Stéfany? Nunca ouvi falar. Ela estuda com vocês?
“Nunca ouvi falar? Isso é ótimo”. Lembrava-me neste momento que, quando Laura me conheceu disse que já havia ouvido falarem ao meu respeito. “Alexandre não comenta sobre seus alunos. Só sobre mim”.
__ Sim, ela é uma nova aluna. Viemos fazer um trabalho em grupo.
__ Ah, sim. Claro!
Laura puxou os cabelos louros pra trás e deixou as mãos na cabeça. Olhei no fundo de seus olhos, dei-lhe um sorriso, pela primeira vez um sorriso sincero, e sai.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Capítulo SETE

Laura ainda chorava muito. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Ela queria tomar fôlego e me explicar tudo, mas não conseguia. Eu me precipitei e fui para seu lado. Sinceramente não sabia o que fazer. Queria consolá-la, abraçá-la, mas estava nervosa e apenas o que fiz foi por minha mão sobre seu ombro.
__ Laura, se você não quiser contar não se sinta pressionada! Você pode me contar uma outra hora quando se sentir melhor.
__ Não! Eu preciso contar isso para alguém. Nessa hora, você é a melhor pessoa para eu desabafar.
Estava com muita curiosidade para saber a verdade. Laura continuava chorando, porém agora ela estava mais calma. Eu voltei a olhar a tal pintura e cada vez estava mais confusa. Não passava nenhuma ideia por minha cabeça.
__ Este é o meu sócio... Nelson!
“Está explicado. Não há mal algum. Ela deve ter pintado o quadro para colocar em sua Sala na Galeria. A única coisa estranha é que está muito íntimo. Mas mesmo assim, não há mal algum”.
__ Ele é bem charmoso. Parece ser uma pessoa legal. Você deve adorar ele!
__ Na verdade... Eu o Amo!
“Meu Deus! Eu escutei isso mesmo?”. Fiquei pasma com a confissão de Laura. Ela olhou pra mim e voltou a chorar. Agora sim a abracei com toda a minha força. Pude sentir o coração de Laura bater cada vez mais rápido.
__ Eu guardo este segredo comigo há muitos anos. Tenho medo do que possa acontecer se o Alexandre descobrir. Eu amava o Nelson, mas o destino me fez casar com o Alexandre. Agora que ele voltou a fazer parte de minha vida, meus sentimentos voltaram com toda intensidade possível. Um ano atrás fui para Paris fazer um curso artístico, entre uma das aulas percebi que junto comigo havia um brasileiro. Ele estava na mesma turma de discussão temática que eu, mas nunca tinha notado. É ele! – pensei depois de duas semanas, quando finalmente ouvi sua voz numa pergunta. Depois dessa aula fui até ele para conversar. Você sabe, eu precisava ter certeza quem, afinal de contas, era ele.
Laura parou por um momento para recuperar o fôlego antes de recomeçar sua confissão. Chorou mais uma vez, enxugou as lágrimas e continuou.
__ Era ele! Depois de tantos anos eu o reencontrei. Senti meu coração batendo forte. Há anos ele não batia assim... Forte. Estava viva outra vez! Finalmente!
Parou outra vez e olhou para o quadro enquanto sentava-se no chão. Sentei ao seu lado.
__ Eu entendo, te entendo completamente – Disse abraçando minhas pernas e afundando minha cabeça nos meus joelhos.
__ Mas é complicado – continuou – complicado demais essa situação. Amar um homem e ser casada com outra pessoa. Depois de tê-lo encontrado fomos a um café. Conversamos por horas e horas. Nos despedimos e fui para o hotel onde estava hospedada. Pouco tempo depois bateram na porta do meu quarto. Era ele.


Silêncio. Agora só escutava nossas respirações. A de Laura principalmente. Agora ela já deitada no chão. Com as mãos na cabeça, tentava não chorar mais uma vez, mas foi inútil.
__ Essa dor! – parou de respirar profundamente – Essa dor que me toma o corpo todo! Tenho vontade de gritar tamanho o meu desespero! Eu estou desesperada! Desesperada! Apaixonada e com medo! Medo das terríveis consequências. Estou desesperada! O que as pessoas vão pensar de mim? Mas, eu não consegui evitar. Eu estava em Paris com o homem da minha vida parado na porta do meu quarto. Meu medo não foi suficiente para me impedir de beijá-lo. Depois desse dia passamos a nos encontrar escondidos.
Laura olhou nos meus olhos e se sentou mais uma vez. Parou de respirar rapidamente e ficou parada, pensando em tudo que acabara de dizer. Continuou seu monólogo.
__ Mas Alexandre não merece essa traição, o que vou fazer?
“Estava pensando em me tornar psicóloga. Todos sempre pedem minha opinião ou meus conselhos. Se eu ganhasse um real cada vez que isso acontece, hoje eu estaria rica”.
Eu estava muito aliviada com o que acabei de ouvir. Laura estava muito agitada e pensei em pegar um copo de água para ela beber. Mas no ateliê só tinha copos sujos com tinta. Achei melhor não dar esses para ela.
__ Eu vou buscar um copo de água com açúcar para você – eu já estava quase saindo do quarto quando Laura pronunciou meu nome. Eu me virei
__ Quero lhe pedir um favor...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Capítulo SEIS

__ Você foi bem na prova Isa?
Mal havia saído da sala e Leandro já estava me cercando e fazendo perguntas.
__ Parece que sim. Eu acho que estou com sorte.
__ Você viu aquela aluna nova? Ela passou a prova toda olhando para mim e pra você. Que estranho.
__ É, eu também reparei que ela ficava me olhando. Acho que ela ainda não conhece ninguém.
__ Então vamos falar com ela, assim nós já descobrimos o porquê ela ficava nos olhando.
Leandro sorriu e colocou a mão no meu ombro. “De Novo?” Coloquei minha mão sobre a dele e a tirei do meu ombro. Ele me olhou um pouco surpreso por eu ter feito isso agora, no cinema eu não tinha hesitado hora alguma.
Concordei com sua ideia e fomos falar com Stéfany. Stéfany, a aluna nova, estava sozinha em um canto do Refeitório. Olhei para ela e senti pena. Eu também já havia passado por isso. Mas o que eu queria mesmo era saber qual o motivo de tanta atenção que ela mantinha em mim. Leandro estava na minha frente. Ele conversou com ela primeiro.
__ Oi! Seu nome é Stéfany, não é?
Ela nos olhou e não falou nada apenas concordou com a cabeça.
__ Eu sou o Leandro e essa aqui é a IsaStéfany demonstrou interesse quando Leandro disse meu nome. Seus olhos fuzilavam em direção aos meus.
___ Você não deve conhecer ninguém aqui... Se precisar de alguma coisa, pode contar com a gente.
“Não aguento essa enrolação que o Leandro está fazendo. Quero perguntar o que está acontecendo” – óbvio que não poderia fazer isso. Tinha que tentar ser amigável.
__ Eu não gosto muito de me enturmar. Eu também não sou muito de conversa. Não me levem a mal, eu apenas não quero...
“Entendo o que você quer dizer” – esta estava sendo a segunda vez que ouvia a voz dela e já estava começando a entendê-la. Logo não haveria mais raiva.
__ Venha conosco! Não precisa ter medo, nós não mordemos! – olhei para Leandro e ele estava quieto e sério. Depois olhei para Stéfany e ela me olhava com uma cara assustada. Então lembrei de minha promessa de nunca mais fazer piadas. “Meu Deus! Vou escrever na testa – Não Fazer Piadas...”.
Leandro virou e saiu deixando eu e Stéfany sozinhas.
__ Eu também sou nova aqui – disse lhe – Estudo aqui há pouco mais de uma semana. Hoje na prova me arrependi de ter entrado nessa escola semana passada. Devia ter entrado hoje pra não fazer a prova.
__ Ainda bem que não tive que fazer porque sou péssima em física.
Não sei ao certo porque, mas estar ao lado de Stéfany me fazia tão bem naquele momento. Fazia com que eu me sentisse viva. Viva por dentro. “Finalmente vou arranjar uma amiga nessa escola, já estava demorando pra eu encontrar alguém para conversar conversas concretas. Alguém no meio da alienação!”
No corredor da escola, as pessoas passavam por nós lentamente. Queriam saber quem era a nova aluna. Andavam devagar o suficiente para gravar nossas figuras na cabeça.
“Este é o melhor dia que eu passo nesta escola. Stéfany é a pessoa que eu mais admiro aqui, sem contar meu querido Alexandre”.
Eu levantei e fui me arrastando pelo corredor. O sinal ensurdecedor continuava soando. Passei pela porta da Sala de Aula e tomei meu lugar. Eu era a única ser humano dentro de um lugar habitado por vírus e bactérias. Estava feliz, agora seria a aula de Física e eu tinha certeza que havia ido bem na prova Surpresa. Alexandre adentrou e me olhou fixamente. Não tive coragem de parar de olhá-lo. Logo todos os alunos estavam todos em algazarra. Stéfany sentou ao meu lado e jogou um sorriso amigável em minha direção. Breve, todos estavam em silêncio observando Alexandre falar.
__ Como a maioria de vocês foi mal na prova surpresa, resolvi dar-lhes uma segunda chance. Vou passar uma lista de exercícios que deve ser resolvidos em grupos. Grupos de duas ou três pessoas.
“Grupo? Ou vou ficar sem companhia ou farei com o Leandro. Talvez Stéfany queira”.
Leandro olhou na minha direção enquanto fazia um movimento com a cabeça querendo dizer “Vamos fazer o trabalho juntos?” fiz que sim com a cabeça. Ele virou-se para Stéfany e fez o mesmo movimento. Pude ver de onde estava que nosso trio estava formado.


Chegamos na casa de Alexandre. “Será que ele está aqui?” Estava tudo em silêncio e escuro. Só agora eu tinha percebido que, mesmo não estando escuro lá fora, dentro da casa nunca havia claridade do sol. “Talvez seja esse o motivo para todos esses abajurs”.
Stéfany parecia encantada com tudo aquilo. Olhou todos os cantos que pôde da sala, até o teto ela tratou de examinar. Era sua primeira vez na casa de Leandro. A mesa estava arrumada para fazermos o trabalho. Leandro retirou da bolsa um livro de Física e abriu na página dos exercícios. Todos sentamos ao redor da mesa e Stéfany continuava a observar tudo e todos. Leandro percebeu que faltava papel e se levantou para pegar alguns.
__ Leandro, pode deixar que eu pego. Fale-me aonde tem...
__ Já que você insiste, Isa. Eu acho que deve ter no quarto dos meus pais. Sobe as escadas e é a primeira porta.
“Novamente aquele quarto... Tenho boas lembranças. Será que o Alexandre está lá?”
Fui me distanciando do meu grupo e me aproximei do palco dos meus sonhos.
Abria porta. O quarto estava vazio. “Onde será que tem papel aqui?”
Numa das paredes vi uma porta de vidro. “Tinha uma porta aqui? Meu Deus, eu não tinha reparado. Também, com o Alexandre na minha frente e me abraçando, eu nunca viria a reparar numa porta. Para onde será que ela leva?”.
Fechei a porta do quarto, não queria que ninguém me visse num momento de tanta curiosidade.
Abri a porta. Era o Ateliê de Laura. Cheio de telas jogadas para todos os lados, tintas, infinitas tintas. Todas as cores possíveis. Havia quatro potes com pincéis sujos, panos manchados e algumas plantas. Entrei e fui fechando a porta com um leve empurrão. Ouvi um barulho. Passos e alguém cantarolando uma musica de Piaf. “Tem alguém aqui. Não acredito. Vou sair antes que me vejam”. Minha curiosidade foi maior do que o medo.
Continuei parada atrás do biombo verde que havia perto da porta, enquanto esperava que algo acontecesse. Não aconteceu. Impaciente, sai detrás do biombo. Na minha frente estava Laura pintando um quadro. Uma pintura de um homem abraçado com uma mulher. A mulher era ela. O homem não era Alexandre.
Não sabia o que fazer. “Será que devo me revelar? Será que Laura irá ficar brava por eu ter entrado aqui?” Eu segui alguns passos para poder ver melhor a tela. Pensando bem, a Laura tinha um grande talento para a pintura. A tela estava perfeita, tinha um brilho especial que chamava a atenção de quem olhava. Mesmo olhando mais perto, eu não conseguia identificar aquele homem... Era um homem de boa aparência e pela pintura parecia que ela o admirava muito. Fui me aproximando quando Laura percebeu minha presença se virou fazendo seu olhar encontrar o meu. “Senhor me proteja. Quero forças para perguntar quem é ele”.
__ O que você está fazendo aqui? Com que direito você entra no meu ateliê sem a minha permissão?! Saia já daqui!
__ Me desculpe Laura. Eu não quis interromper. Eu pensei que não tivesse ninguém aqui.
__ Nem se não tivesse! Fora agora mesmo!
__ Eu só queria saber quem é esse homem que você pintou, eu não o conheço.
__ Por acaso, você tem que conhecer todas as pessoas do mundo? – seu rosto ficava mais vermelho cada vez que gritava.
__ Não me leve a mal, só perguntei por pura curiosidade... Você sabe, como não é o Alexandre que está desenhado ai no quadro com você, eu fiquei imaginando quem poderia ser – um silêncio pesado e cortante ficou no ateliê, como se resolvesse passar férias acampado entre nós.
Laura me olhou de cima a baixo e começou a rir histericamente. Depois parou por um momento e chorou. Chorou rios de lágrimas por muitos minutos.
__ Você realmente quer saber quem é esse homem da tela? Pois então eu vou lhe contar!

sábado, 29 de agosto de 2009

Capítulo CINCO

__ Então Isa, você entendeu mesmo? Nessa parte você tem que prestar atenção, parece difícil, mas não é. Pode acontecer de ter alguma pegadinha em uma questão, mas acho que não vai acontecer. Isso é o essencial que você precisa saber no momento.
“Meu dia já começou mal. A Física está me matando” – Nessa hora não queria mais pensar em nada. Tudo o que o Leandro falava entrava em minha cabeça e não fixava. Eu não aguentava mais ouvir a voz dele, estava ficando enjoada.
“Se é para aprender Física que seja com o Alexandre”.
__ Você está entendendo? Parece que não.
“Meu Deus! Como ele insiste em me irritar, além de eu não ter pedido explicação nenhuma, ele ainda fica me obrigando a entender o que eu não quero saber. Não saber e pedir ajuda para o professor”.
__Claro que estou entendendo.
__ Então o que foi que eu disse?
“Quando eu disse que não sabia a matéria, não queria que você me explicasse”.
Lembro de, antes da interminável explicação de Leandro, ter pensando “Vou comentar que estou com duvida em relação a matéria e perguntar se ele sabe onde o Alexandre está. Assim eu posso tentar esclarecer o que aconteceu ontem”.
__ Não sei, desculpe. Eu não estou conseguindo entender.
__ Tudo bem, eu sou um péssimo professor. Talvez meu pai possa lhe explicar.
__ Acredito que seja melhor mesmo. Eu só acho que ele pode ficar bravo comigo por eu não conseguir entender.
__ Imagina Isa! Tenho certeza que ele vai te explicar... Ele não é um carrasco.
__ E você sabe onde ele está?
__ Bem... Provavelmente ele deve estar na Sala dos Professores... Vai até lá... E acho melhor você ir logo porque vai bater o sinal. Ai ficará difícil você falar com ele.
Dei as costas para Leandro e fui em direção à Sala dos Professores. Nunca havia reparado que aqueles corredores eram tão longos. Parecia que estava andando a horas. Eu já estava começando a ficar nervosa. “Quero tirar essa história a limpo”. Porém tinha medo de estragar minha fantasia. Ainda não sabia se esse seria mesmo o melhor caminho a seguir.
Fui me aproximando do meu destino. Minha mente não pensava em mais nada, estava começando a achar que deveria sair correndo e deixar tudo como está.
Apareci na porta e todos os professores olharam para mim. Eu olhei por toda a sala e não pude ver o Alexandre. “Ele não pode ter faltado hoje”.
__ Há algum problema Senhorita Isabela? – educadamente perguntou-me Miguel, professor de História.
__ Eu estava procurando o professor Alexandre...
__ Ele está na Secretaria.
__ Obrigada professor. Eu vou ver se consigo falar com ele.
Sai de lá correndo, tinha pânico de Sala dos Professores. “Foi numa sala dessas que aquela professora foi pega com o aluno”. Ainda me lembro desse dia. Cheguei na escola e fui até a secretária procurando pela professora Juliana, precisava lhe mostrar um artigo sobre células-tronco que tinha encontrado na internet. Percebi que não havia ninguém na escola, além de mim e outros funcionários. Fui até a sala dos professores, aquela sala nunca ficava vazia, provavelmente alguém iria me informar sobre a professora.
Abri a porta. As luzes estavam apagadas. “Luzes Apagadas? Elas nunca estão apagadas”. Num dos cantos, encontrei Juliana com um de meus amigos. Ela e Gabriel não me viram.
Sai e fechei a porta sem fazer barulho. Enquanto andava pelo corredor, pude ver que a faxineira da escola estava entrando por aquela porta. Minutos depois ouvi gritos e um choro compulsivo.
Ouvi o sinal da primeira aula tocando. “É melhor correr se eu ainda quiser falar com Alexandre”. Sai correndo como uma louca, talvez tenha até esbarrado em alguém, mas nem liguei. Continuei correndo.
Estava me aproximando da Secretaria quando parei de correr. Meu coração estava batendo muito forte e rapidamente. Comecei a ouvir vozes. Ouvi a voz do Alexandre, esta eu não confundia, e também uma outra voz que não consegui saber de quem era. Abri a porta. Fui entrando sem ser percebida.
A conversa fluía normalmente. Eu ainda continuava sem saber de quem era aquela voz. Continuei entrando. De repente o sol iluminou a janela e refletiu em minha cara branca. Todos passaram a me observar. Fiquei assustada e com vergonha.
Todos olhando para mim, menos Alexandre e uma garota com quem ele conversava. Ela era alta, de olhos e cabelos castanhos. Seu sorriso era mágico, chamava a atenção de todos, inclusive a minha.
__ Com licença professor – disse abaixando a cabeça – Posso falar com o senhor por um momento?
Aquela garota olhava insistentemente na minha direção. “Sim, eu sei que interrompi a sua conversa”.
__ Só um minuto, Isabela. Já falo com você.
“Já falo com você? Que audácia, depois do que aconteceu ele vai continuar me tratando como uma mera aluna?”
__ Sim, senhor – Respondi entre dentes.
__ Não, não! Me espere na sala de aula.
“Me espere na sala de aula! Agora não consigo entender nada. Aquele sem vergonha de professorzinho de merda”. Segui andando pelo corredor e apenas pensava em como poderia matar a aula daquele que nem quero dizer o nome.
“Meu Deus! Não quero olhar para ele. Essa família está começando a se tornar repugnante”. Cheguei a porta da Sala. Meu olhar se desviou para dentro. Vi minha carteira vazia e todos os alunos estavam conversando. Olhei Leandro, ele era o único que estava em silêncio lendo um livro. Continuei parada na porta, quando recebi um empurro de leve. A menina da secretaria passou por mim e entrou na sala. Ela se direcionou a uma carteira vaga ao lado da minha.
Alexandre, no mesmo momento, passou do meu lado e entro na sala. Ele nem reparou em mim. Entrou irritado e começou a gritar com a classe.
__ Silêncio! Eu quero silêncio agora! Vamos ter uma Prova Surpresa sobre a matéria da semana passada. Você Stéfany, se não quiser fazer a prova, tudo bem. Afinal de contas você chegou hoje.
Stéfany? Mas que nome... Lembra-me alguém.”
Olhei para Stéfany e ela tinha sua aparência feliz. “É claro que tem a aparência feliz, ela acabou de se livrar de uma prova de Física”. Todos fecharam seus livros e Alexandre passou entregando as provas. Ele colocou uma sobre minha carteira e quando olhei tive vontade de me matar. A prova tinha três páginas de frente e verso e várias figuras que eu nem sabia do que se tratava. Olhei em volta e estavam todos concentrados fazendo a tal desgraça da prova de Física. Leandro nem piscava e Stéfany olhava para mim.
“Prova Surpresa? Péssima ideia... Devia ter entrado na escola hoje, assim eu também não teria que fazer a prova. Que tanto essa garota me olha?”
Me virei para Stéfany e lhe dei um sorriso, que me foi correspondido animadamente, tão eufórico que achei estranho.
Alexandre andava pela classe em volta das fileiras, ao passar por mim, deixou sobre minha mesa uma folha de caderno. Pensei que talvez pudesse ser um bilhete explicando o acontecimento do dia anterior. Não era. No papel estava anotado todas as respostas da prova. Fiquei paralisada, não sabia o que eu deveria fazer.
Ele continuou andando pela sala enquanto Stéfany assistia a tudo.