segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Capítulo SEIS

__ Você foi bem na prova Isa?
Mal havia saído da sala e Leandro já estava me cercando e fazendo perguntas.
__ Parece que sim. Eu acho que estou com sorte.
__ Você viu aquela aluna nova? Ela passou a prova toda olhando para mim e pra você. Que estranho.
__ É, eu também reparei que ela ficava me olhando. Acho que ela ainda não conhece ninguém.
__ Então vamos falar com ela, assim nós já descobrimos o porquê ela ficava nos olhando.
Leandro sorriu e colocou a mão no meu ombro. “De Novo?” Coloquei minha mão sobre a dele e a tirei do meu ombro. Ele me olhou um pouco surpreso por eu ter feito isso agora, no cinema eu não tinha hesitado hora alguma.
Concordei com sua ideia e fomos falar com Stéfany. Stéfany, a aluna nova, estava sozinha em um canto do Refeitório. Olhei para ela e senti pena. Eu também já havia passado por isso. Mas o que eu queria mesmo era saber qual o motivo de tanta atenção que ela mantinha em mim. Leandro estava na minha frente. Ele conversou com ela primeiro.
__ Oi! Seu nome é Stéfany, não é?
Ela nos olhou e não falou nada apenas concordou com a cabeça.
__ Eu sou o Leandro e essa aqui é a IsaStéfany demonstrou interesse quando Leandro disse meu nome. Seus olhos fuzilavam em direção aos meus.
___ Você não deve conhecer ninguém aqui... Se precisar de alguma coisa, pode contar com a gente.
“Não aguento essa enrolação que o Leandro está fazendo. Quero perguntar o que está acontecendo” – óbvio que não poderia fazer isso. Tinha que tentar ser amigável.
__ Eu não gosto muito de me enturmar. Eu também não sou muito de conversa. Não me levem a mal, eu apenas não quero...
“Entendo o que você quer dizer” – esta estava sendo a segunda vez que ouvia a voz dela e já estava começando a entendê-la. Logo não haveria mais raiva.
__ Venha conosco! Não precisa ter medo, nós não mordemos! – olhei para Leandro e ele estava quieto e sério. Depois olhei para Stéfany e ela me olhava com uma cara assustada. Então lembrei de minha promessa de nunca mais fazer piadas. “Meu Deus! Vou escrever na testa – Não Fazer Piadas...”.
Leandro virou e saiu deixando eu e Stéfany sozinhas.
__ Eu também sou nova aqui – disse lhe – Estudo aqui há pouco mais de uma semana. Hoje na prova me arrependi de ter entrado nessa escola semana passada. Devia ter entrado hoje pra não fazer a prova.
__ Ainda bem que não tive que fazer porque sou péssima em física.
Não sei ao certo porque, mas estar ao lado de Stéfany me fazia tão bem naquele momento. Fazia com que eu me sentisse viva. Viva por dentro. “Finalmente vou arranjar uma amiga nessa escola, já estava demorando pra eu encontrar alguém para conversar conversas concretas. Alguém no meio da alienação!”
No corredor da escola, as pessoas passavam por nós lentamente. Queriam saber quem era a nova aluna. Andavam devagar o suficiente para gravar nossas figuras na cabeça.
“Este é o melhor dia que eu passo nesta escola. Stéfany é a pessoa que eu mais admiro aqui, sem contar meu querido Alexandre”.
Eu levantei e fui me arrastando pelo corredor. O sinal ensurdecedor continuava soando. Passei pela porta da Sala de Aula e tomei meu lugar. Eu era a única ser humano dentro de um lugar habitado por vírus e bactérias. Estava feliz, agora seria a aula de Física e eu tinha certeza que havia ido bem na prova Surpresa. Alexandre adentrou e me olhou fixamente. Não tive coragem de parar de olhá-lo. Logo todos os alunos estavam todos em algazarra. Stéfany sentou ao meu lado e jogou um sorriso amigável em minha direção. Breve, todos estavam em silêncio observando Alexandre falar.
__ Como a maioria de vocês foi mal na prova surpresa, resolvi dar-lhes uma segunda chance. Vou passar uma lista de exercícios que deve ser resolvidos em grupos. Grupos de duas ou três pessoas.
“Grupo? Ou vou ficar sem companhia ou farei com o Leandro. Talvez Stéfany queira”.
Leandro olhou na minha direção enquanto fazia um movimento com a cabeça querendo dizer “Vamos fazer o trabalho juntos?” fiz que sim com a cabeça. Ele virou-se para Stéfany e fez o mesmo movimento. Pude ver de onde estava que nosso trio estava formado.


Chegamos na casa de Alexandre. “Será que ele está aqui?” Estava tudo em silêncio e escuro. Só agora eu tinha percebido que, mesmo não estando escuro lá fora, dentro da casa nunca havia claridade do sol. “Talvez seja esse o motivo para todos esses abajurs”.
Stéfany parecia encantada com tudo aquilo. Olhou todos os cantos que pôde da sala, até o teto ela tratou de examinar. Era sua primeira vez na casa de Leandro. A mesa estava arrumada para fazermos o trabalho. Leandro retirou da bolsa um livro de Física e abriu na página dos exercícios. Todos sentamos ao redor da mesa e Stéfany continuava a observar tudo e todos. Leandro percebeu que faltava papel e se levantou para pegar alguns.
__ Leandro, pode deixar que eu pego. Fale-me aonde tem...
__ Já que você insiste, Isa. Eu acho que deve ter no quarto dos meus pais. Sobe as escadas e é a primeira porta.
“Novamente aquele quarto... Tenho boas lembranças. Será que o Alexandre está lá?”
Fui me distanciando do meu grupo e me aproximei do palco dos meus sonhos.
Abria porta. O quarto estava vazio. “Onde será que tem papel aqui?”
Numa das paredes vi uma porta de vidro. “Tinha uma porta aqui? Meu Deus, eu não tinha reparado. Também, com o Alexandre na minha frente e me abraçando, eu nunca viria a reparar numa porta. Para onde será que ela leva?”.
Fechei a porta do quarto, não queria que ninguém me visse num momento de tanta curiosidade.
Abri a porta. Era o Ateliê de Laura. Cheio de telas jogadas para todos os lados, tintas, infinitas tintas. Todas as cores possíveis. Havia quatro potes com pincéis sujos, panos manchados e algumas plantas. Entrei e fui fechando a porta com um leve empurrão. Ouvi um barulho. Passos e alguém cantarolando uma musica de Piaf. “Tem alguém aqui. Não acredito. Vou sair antes que me vejam”. Minha curiosidade foi maior do que o medo.
Continuei parada atrás do biombo verde que havia perto da porta, enquanto esperava que algo acontecesse. Não aconteceu. Impaciente, sai detrás do biombo. Na minha frente estava Laura pintando um quadro. Uma pintura de um homem abraçado com uma mulher. A mulher era ela. O homem não era Alexandre.
Não sabia o que fazer. “Será que devo me revelar? Será que Laura irá ficar brava por eu ter entrado aqui?” Eu segui alguns passos para poder ver melhor a tela. Pensando bem, a Laura tinha um grande talento para a pintura. A tela estava perfeita, tinha um brilho especial que chamava a atenção de quem olhava. Mesmo olhando mais perto, eu não conseguia identificar aquele homem... Era um homem de boa aparência e pela pintura parecia que ela o admirava muito. Fui me aproximando quando Laura percebeu minha presença se virou fazendo seu olhar encontrar o meu. “Senhor me proteja. Quero forças para perguntar quem é ele”.
__ O que você está fazendo aqui? Com que direito você entra no meu ateliê sem a minha permissão?! Saia já daqui!
__ Me desculpe Laura. Eu não quis interromper. Eu pensei que não tivesse ninguém aqui.
__ Nem se não tivesse! Fora agora mesmo!
__ Eu só queria saber quem é esse homem que você pintou, eu não o conheço.
__ Por acaso, você tem que conhecer todas as pessoas do mundo? – seu rosto ficava mais vermelho cada vez que gritava.
__ Não me leve a mal, só perguntei por pura curiosidade... Você sabe, como não é o Alexandre que está desenhado ai no quadro com você, eu fiquei imaginando quem poderia ser – um silêncio pesado e cortante ficou no ateliê, como se resolvesse passar férias acampado entre nós.
Laura me olhou de cima a baixo e começou a rir histericamente. Depois parou por um momento e chorou. Chorou rios de lágrimas por muitos minutos.
__ Você realmente quer saber quem é esse homem da tela? Pois então eu vou lhe contar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário