terça-feira, 1 de setembro de 2009

Capítulo SETE

Laura ainda chorava muito. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Ela queria tomar fôlego e me explicar tudo, mas não conseguia. Eu me precipitei e fui para seu lado. Sinceramente não sabia o que fazer. Queria consolá-la, abraçá-la, mas estava nervosa e apenas o que fiz foi por minha mão sobre seu ombro.
__ Laura, se você não quiser contar não se sinta pressionada! Você pode me contar uma outra hora quando se sentir melhor.
__ Não! Eu preciso contar isso para alguém. Nessa hora, você é a melhor pessoa para eu desabafar.
Estava com muita curiosidade para saber a verdade. Laura continuava chorando, porém agora ela estava mais calma. Eu voltei a olhar a tal pintura e cada vez estava mais confusa. Não passava nenhuma ideia por minha cabeça.
__ Este é o meu sócio... Nelson!
“Está explicado. Não há mal algum. Ela deve ter pintado o quadro para colocar em sua Sala na Galeria. A única coisa estranha é que está muito íntimo. Mas mesmo assim, não há mal algum”.
__ Ele é bem charmoso. Parece ser uma pessoa legal. Você deve adorar ele!
__ Na verdade... Eu o Amo!
“Meu Deus! Eu escutei isso mesmo?”. Fiquei pasma com a confissão de Laura. Ela olhou pra mim e voltou a chorar. Agora sim a abracei com toda a minha força. Pude sentir o coração de Laura bater cada vez mais rápido.
__ Eu guardo este segredo comigo há muitos anos. Tenho medo do que possa acontecer se o Alexandre descobrir. Eu amava o Nelson, mas o destino me fez casar com o Alexandre. Agora que ele voltou a fazer parte de minha vida, meus sentimentos voltaram com toda intensidade possível. Um ano atrás fui para Paris fazer um curso artístico, entre uma das aulas percebi que junto comigo havia um brasileiro. Ele estava na mesma turma de discussão temática que eu, mas nunca tinha notado. É ele! – pensei depois de duas semanas, quando finalmente ouvi sua voz numa pergunta. Depois dessa aula fui até ele para conversar. Você sabe, eu precisava ter certeza quem, afinal de contas, era ele.
Laura parou por um momento para recuperar o fôlego antes de recomeçar sua confissão. Chorou mais uma vez, enxugou as lágrimas e continuou.
__ Era ele! Depois de tantos anos eu o reencontrei. Senti meu coração batendo forte. Há anos ele não batia assim... Forte. Estava viva outra vez! Finalmente!
Parou outra vez e olhou para o quadro enquanto sentava-se no chão. Sentei ao seu lado.
__ Eu entendo, te entendo completamente – Disse abraçando minhas pernas e afundando minha cabeça nos meus joelhos.
__ Mas é complicado – continuou – complicado demais essa situação. Amar um homem e ser casada com outra pessoa. Depois de tê-lo encontrado fomos a um café. Conversamos por horas e horas. Nos despedimos e fui para o hotel onde estava hospedada. Pouco tempo depois bateram na porta do meu quarto. Era ele.


Silêncio. Agora só escutava nossas respirações. A de Laura principalmente. Agora ela já deitada no chão. Com as mãos na cabeça, tentava não chorar mais uma vez, mas foi inútil.
__ Essa dor! – parou de respirar profundamente – Essa dor que me toma o corpo todo! Tenho vontade de gritar tamanho o meu desespero! Eu estou desesperada! Desesperada! Apaixonada e com medo! Medo das terríveis consequências. Estou desesperada! O que as pessoas vão pensar de mim? Mas, eu não consegui evitar. Eu estava em Paris com o homem da minha vida parado na porta do meu quarto. Meu medo não foi suficiente para me impedir de beijá-lo. Depois desse dia passamos a nos encontrar escondidos.
Laura olhou nos meus olhos e se sentou mais uma vez. Parou de respirar rapidamente e ficou parada, pensando em tudo que acabara de dizer. Continuou seu monólogo.
__ Mas Alexandre não merece essa traição, o que vou fazer?
“Estava pensando em me tornar psicóloga. Todos sempre pedem minha opinião ou meus conselhos. Se eu ganhasse um real cada vez que isso acontece, hoje eu estaria rica”.
Eu estava muito aliviada com o que acabei de ouvir. Laura estava muito agitada e pensei em pegar um copo de água para ela beber. Mas no ateliê só tinha copos sujos com tinta. Achei melhor não dar esses para ela.
__ Eu vou buscar um copo de água com açúcar para você – eu já estava quase saindo do quarto quando Laura pronunciou meu nome. Eu me virei
__ Quero lhe pedir um favor...

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