terça-feira, 22 de setembro de 2009

Capítulo DEZENOVE

Vários tubos adentravam por meu nariz e por minha boca. Não conseguia respirar nem ao menos podia falar. Apenas vi a imagem embassada de minha mãe vindo até mim quando percebeu que eu acordava.
__ Minha filha! Que bom que você acordou! Eu quase tive um ataque do coração quando te vi caída na sala. Porque você fez isso? Porque tentou se matar?
"Não me faça falar a verdade. Eu apenas queria paz".
Minha mãe me olhava fixamente esperando uma resposta minha. Me esforcei para conseguir falar.
__ Quero falar com Laura. Onde ela está?
__ Minha filha, a Laura deve estar com o amigo dela que sofreu um acidente. Mas tem uma outra pessoa querendo falar com você. Posso deixá-lo entrar?
Afundei minha cabeça no travesseiro, estava deitada numa daquelas desconfortáveis camas de hospital, vestida com uma roupa que não vestia nada. Ainda bem que tinha um cobertor sobre mim.
__ Quem quer falar comigo?
__ O seu professor de física. Não é adorável? Até o seu professor se preocupa com você.
__ Eu não quero falar com ele.
__ Bom, eu vou deixá-lo entrar, ele insistiu tanto. Seja simpática com ele, sim?
"Simpática, simpática. Queria mesmo é ter morrido, nem pra me matar eu sirvo! Nem isso eu consegui fazer direito".
Alexandre entrou no quarto. Ainda estava com os machucados da briga com Nelson. A camisa que agora estava amassada e manchada com sangue era a mesma camisa que tinha usado na primeira aula que tive com ele.
__ Preciso falar com você e mais rápido possível, por isso não me interrompa.
Fiquei olhando bem nos olhos de Alexandre. Ele tomou fôlego e começou a falar.
__ Eu tomei uma decisão, Isabela! Sinto que tudo o que aconteceu entre nós não ter dado certo, mas não será por isso que nossa amizade acabará. Eu pedi para sair da Escola. Estou indo para outra cidade. Quero recomeçar minha vida do zero.
"Recomeçar a vida... Já vi essa história antes. Agora ele arranja uma nova escola e uma nova tonta para seduzir".
__ Eu não queria que acabasse assim.
__ Mas acabou! Agora é cada um para o seu lado. Não podemos mais fazer nada. Não podemos voltar no tempo para consertar nossos erros.
__ Espero que você seja feliz, Isa. Até quem sabe um dia. Talvez o destino ainda nos junte outra vez.
Uma lágrima saiu dos meus olhos e percorreu meu rosto. Nunca havia chorado por esse motivo. Não queria que ele fosse embora. Realmente não queria. O meu maior sonho nesse momento seria recomeçar tudo. Quem sabe nascer de novo não resolveria meu problema.
"Viu só, Isa! Se você estivesse morta pelo menos não estaria ouvindo isso! Ah! Que vontade de deixar de existir. Morrer só um pouquinho!".
__ Isa? Você está me ouvindo? Bem, eu já vou indo. Meu avião já vai sair.
Alexandre saiu do quarto sem nem se despedir. Apenas disse "Meu avião já vai sair" e saiu. "Pronto. Agora sim definitivamente terminou. Esse plano que montei com a Laura só me serviu para perder meu professor! Eu não precisava fazer isso! Ele já era meu".
__ Não é mais...
Minha mãe entrou no quarto quando Alexandre saiu. Ela passou suas mãos sobre minha cabeça e me olhava com cara de piedade.
__ Eu quero e preciso falar com a Laura. Urgente! Chame ela onde quer que ela esteja.
__ Minha filha, eu vou fazer o possível. Não sei aonde ela está.
__ Procure por ela. Tente ligar no celular dela...
__ Tudo bem, Isabela. Eu vou tentar, mas agora tente descansar.
Fechei os olhos.


Laura logo chegou e me acordou. Pedi para que minha mãe se retirasse.
__ Olha só o que esse seu plano idiota causou. Você depois de tudo ainda acabou se dando bem e eu estou numa cama de hospital sem o Alexandre do meu lado.
__ Eu não posso fazer nada. Se o Alexandre descobriu tudo, a culpa foi sua. Isa, eu não quero discutir com você. O Nelson está se recuperando e quando ele ficar bom, a gente vai embora para Paris. Vou abrir uma nova Galeria lá...
__ Todos estão com planos menos eu que estou aqui imóvel. Minha vida acabou.
__ Não fale assim, Isa. Você é jovem e irá superar tudo isso rapidamente.
Apenas o que fiz foi concordar com o que Laura disse. Ela foi se afastando e saiu do quarto. O soro continuava entrando por minhas veias e resolvi dormir de vez. Assistia em silêncio o que eu não queria mais enxergar.

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