quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Capítulo OITO

Me virei para Laura. Ela agora estava de pé. Firme como uma rocha. Minhas pernas ficaram trêmulas ao vê-la recuperada. Enquanto ela chorava, pela primeira vez, eu tinha me sentido superior, mas agora Laura voltava ao seu ar inatingível. O seu ar de sempre.
__ Eu vi você e o Alexandre.
Minhas pernas pareciam se desmanchar aos poucos, tremia mais do que nunca. Paralisada, olhei de novo para Laura que acendeu um cigarro e puxou uma cadeira. Sentei no chão mais uma vez. Agora eu chorava. “Não pode ser verdade! Ela vai realmente jogar isso na minha cara!”. Recuperei minha energia e minha coragem.
__ Eu já sabia, eu vi você parada na porta – “Pronto! Falei!” – Você não ia me pedir um favor?
__ Antes de falar sobre isso, quero saber o que você sente pelo Alexandre.
“Já que estamos colocando tudo em pratos limpos, vou falar tudo”.
__ Estou esperando sua resposta...
__ Eu desejo o Alexandre com todas as minhas forças. Sonho com ele todas as noites e o amarei pelo resto de minha vida.
Agora sim estava começando a ficar nervosa. “Isto está muito estranho”. Havia alguma coisa que não me deixava confiar na sinceridade de Laura.
__ Eu compreendo você! Entendo quando amamos uma pessoa e não podemos nos entregar a essa paixão...
Laura estava séria, sua cara estava começando a me dar medo. Meu nariz inalava o odor da fumaça do segundo cigarro de Laura quando ela respirou fundo, tomou fôlego e escolheu suas palavras com sabedoria.
__ Eu quero me separar do Alexandre. E quero que você me ajude a fazer isso... Se você me ajudar, terá o campo livre para ficar com ele.
__ Eu não consigo imaginar como nós poderíamos fazer isso.
__ Mas eu sei como e é por isso que preciso de sua ajuda. Então... Você aceita o que eu tenho para propor?
Nesse momento eu não tinha nada a perder. Sem hesitar me dirigi até a pintura que Laura havia feito. Ela apagou seu cigarro num cinzeiro e se colocou atrás de mim. Eu olhei o quadro. A felicidade de Laura e principalmente o amor sincero que ela nutria por Nelson, me fizeram tomar uma decisão. Uma lágrima correu por meu rosto quando falei minha resposta.
__ SIM, EU ACEITO.
“Essa foi, sem dúvida nenhuma, a mais importante decisão em toda a minha vida. E também o momento mais feliz que passei. Era como se eu estivesse assinando um contrato e o Alexandre fosse o pagamento”. Nem conseguia acreditar que o meu maior sonho se tornaria realidade.
Um grande acordo esse. Quem diria que Laura iria me fazer essa oferta... Me entregar o Alexandre numa bandeja de ouro pra ficar com um pintor. “Nelson”. Laura agora sorria, sorria tanto que chegava a me assustar, mas eu depois me dei conta que eu também estava agindo da mesma forma. Olhei mais uma vez para o quadro.
“Esse provavelmente não vai pra nenhuma exposição”. Selei o nosso acordo com uma pergunta relevante.
__ Quando é a inauguração da Galeria?
__ Ainda não tem data certa, mas sei que será logo. Não se preocupe, tudo vai dar certo no final.
“Tudo vai dar certo no final! Tudo vai dar certo no final!”. – pensava tentando me convencer que, realmente tudo daria certo.
__ É melhor eu descer então. Eles já devem estar se perguntando onde eu estou.
__ Eles quem? – perguntou Laura surpresa. Talvez tivesse pensado que estava me referindo a Leandro e Alexandre. Seria impróprio seu marido encontrá-la pintando aquele quadro. Mas Alexandre não estava em casa.
__ Leandro e Stéfany.
__ Quem é Stéfany? Nunca ouvi falar. Ela estuda com vocês?
“Nunca ouvi falar? Isso é ótimo”. Lembrava-me neste momento que, quando Laura me conheceu disse que já havia ouvido falarem ao meu respeito. “Alexandre não comenta sobre seus alunos. Só sobre mim”.
__ Sim, ela é uma nova aluna. Viemos fazer um trabalho em grupo.
__ Ah, sim. Claro!
Laura puxou os cabelos louros pra trás e deixou as mãos na cabeça. Olhei no fundo de seus olhos, dei-lhe um sorriso, pela primeira vez um sorriso sincero, e sai.

Um comentário: